domingo, 10 de outubro de 2010

MÃOS DADAS




Não serei o poeta de um mundo caduco.


Também não cantarei o mundo futuro.


Estou preso à vida e olho meus companheiros.


Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.


Entre eles, considero a enorme realidade.


O presente é tão grande, não nos afastemos.


Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.




Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,


não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,


não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,


não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.


O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,




a vida presente.






Carlos Drummond de Andrade

3 comentários:

  1. "O presente é tão grande, não nos afastemos
    Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas."

    Esse trecho que a Ju destacou é simplesmente divino! Lindo!

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  2. Tem coisa mais maravilhosa do que viver o presente? E coisa super dificil tb...

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  3. Esse poema é pra mim um dos mais tocantes e fortes! Adoro o jeito de escrever do Drummond!

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