segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ser teu pão, ser tua comida

Todo amor que houver nessa vida
Eu quero a sorte de um amor tranquilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia

E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia

E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria

(Cazuza/Frejat)
Ouça aqui na voz de Cazuza e aqui na voz de Cássia Eller.

Meu Chico


"Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar,
fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo,
queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás se fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir"

Eu te amo, Chico Buarque

Exausto

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

Adélia Prado.

domingo, 30 de maio de 2010

Redemoinhos


"No seu coração agitavam-se redemoinhos soprados por um vento não se sabia de onde. Para ela talvez todo o amor não fosse garantia suficiente"

Do diario de Silvia, Érico Veríssimo

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Os versos que te fiz

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder ...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !
Mas, meu amor, eu não tos digo ainda ...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !
Amo-te tanto ! E nunca te beijei ...
E nesse beijo, amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Florbela Espanca

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Teus pés


Os teus pés

"Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,

teus pequenos pés duros.

Eu sei que te sustentam

e que teu doce peso sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,

a duplicada púrpurados teus mamilos,

a caixa dos teus olhos

que há pouco levantaram vôo,

a larga boca de fruta,

tua rubra cabeleira,

pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés

é só porque andaram

sobre a terra

e sobre o vento

e sobre a água,

até me encontrarem."

Pablo Neruda

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Quase sem querer



















Tenho andado distraído
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso
Só que agora é diferente
Estou tão tranqüilo
E tão contente...

Quantas chances desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém

Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia
Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira

Mas não sou mais
Tão criança
A ponto de saber tudo...

Já não me preocupo
Se eu não sei por que
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê

E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu vejo
O mesmo que você...

Tão correto e tão bonito
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos

Sei que às vezes uso
Palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?

Me disseram que você
Estava chorando
E foi então que eu percebi
Como lhe quero tanto...



Legião Urbana
*Para ouvir a música, clique aqui.

...agora terão as estrelas de apagar-se

Post dedicado à lua (belíssima sempre) e às minhas Luzes :)

O céu estava alto, todo picado de astros que pareciam próximos como se dele estivessem invisivelmente dependurados, poalha de vidro, véu de leite nevado, e as grandes constelações fulgiam dramaticamente, o Boieiro, as Duas Ursas, o Sete-Estrelo, sobre os rostos alçados dos dois homens caía uma chuvinha feita de pequenos cristais de luz que se agarravam à pele, ficavam presos nos cabelos, não foi a primeira vez que o fenômeno se deu, mas num repente calaram-se todos os murmúrios da noite, por cima das árvores apareceu o primeiro alvor da lua, agora terão as estrelas de apagar-se. Então Joaquim Sassa disse, Com uma noite destas até sou capaz de dormir debaixo da figueira, se me emprestar uma manta, Faço-lhe companhia. Amontoaram, ajeitaram depois uma quantidade suficiente de palha para as camas, como para o gado se faz, estenderam as mantas, sobre um lado delas se deitaram, com o outro se cobriram. Os estorninhos espreitavam dos ramos os dois vultos, Quem será aquele, debaixo da árvore e nos ramos está tudo acordado, com um luar assim vai ter o sono de batalhar muito. A lua sobe, sobe depressa, a copa baixa e redonda da figueira transforma-se em labirinto de negro e branco, e José Anaiço diz, Estas sombras não estão já como eram, Moveu-se a península tão pouco, uns metros, o efeito não pode ter sido grande, observou Joaquim Sassa, feliz por ter compreendido o comentário, Moveu-se, e bastou para que as sombras todas se tivessem tornado diferentes, há aí ramos que a luz da lua toca pela primeira vez a esta hora.

Trecho de A jangada de pedra, de José Saramago.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Escreva


"Tento entender a vida, o mundo e o mistério e para isso escrevo. Não conseguirei jamais entender, mas tentar me dá uma enorme alegria. Além disso, sou uma mulher simples, em busca cada vez mais de mais simplicidade. Amo a vida, os amigos, os filhos, a arte, minha casa, o amanhecer. Sou uma amadora da vida."

Lya Luft

Eva Luna


“Quando pude ler corretamente, ele me trouxe novelas românticas, todas no mesmo estilo: secretária de lábios túrgidos, seios mórbidos e olhos cândidos conhece executivo de músculos de bronze, têmporas prateadas e olhos de aço. Ela é sempre virgem, mesmo no caso incomum de ser viúva, ele é autoritário, superior a ela em todos os sentidos, há um desentendimento por ciúmes ou por herança, mas tudo se ajeita e ele a toma nos braços metálicos, ela suspira sufocadamente e ambos são arrebatados pela paixão, mas nada grosseiro ou carnal. O apogeu era um único beijo que os conduzia ao êxtase de um paraíso sem retorno: o casamento. Depois do beijo nada mais havia, apenas a palavra “fim”, coroada de flores ou pombinhos. Em pouco tempo, na terceira página eu já adivinhava o argumento e, para distrair-me, modificava tudo, desviando o enredo para um desenlace trágico, muito diferente do idealizado pelo autor e mais de acordo com minha incurável tendência à morbidez e violência.”


Contos de Eva Luna, Isabel Allende

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A tua parte


"Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede. "

Cora Coralina

A hora do cansaço


As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Carlos Drummond de Andrade.

domingo, 23 de maio de 2010

Encontrando o pé de laranja lima...


"
- Por onde você fala?
- Árvore fala por todo canto. Pelas folhas, pelos galhos, pelas raízes. Quer ver? Encoste seu ouvido aqui no meu tronco que você escuta meu coração bater.
Fiquei meio indeciso, mas vendo o seu tamanho, perdi o medo. Encostei o ouvido e uma coisa longe fazia tique... tique...
- Viu?
- Me diga uma coisa. Todo mundo sabe que você fala?
- Não. Só você.
- Verdade?
- Posso jurar. Uma fada me disse que quando um menininho igualzinho a você ficasse meu amigo, que eu ia falar e ser muito feliz."

José Mauro de Vasconcelos. Meu pé de laranja lima.

O amor já está

“O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente. O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe de graça - que se chama paixão.”

Clarice Lispector. A paixão segundo G.H.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Jangada de Pedra

Então, a Península Ibérica moveu-se um pouco mais, um metro, dois metros, a experimentar as forças. As cordas que serviam de testemunhos, lançadas de bordo a bordo, tal qual os bombeiros fazem nas paredes que apresentam rachas e ameaçam desabar, rebentaram como simples cordéis, algumas mais sólidas arrancaram pela raiz as árvores e os postes a que estavam atadas. Houve depois uma pausa, sentiu-se passar nos ares um grande sopro, como a primeira respiração profunda de quem acorda, e a massa de pedra e terra, coberta de cidades, aldeias, rios, bosques, fábricas, matos bravios, campos cultivados, com a sua gente e os seus animais, começou a mover-se, barca que se afasta do porto e aponta ao mar outra vez desconhecido.

Trecho de Jangada de Pedra, de José Saramago.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Ausência


Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei… tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinícius de Moraes.

Besteira qualquer


" bem, como vai você?

levo assim, calado

de lado do que sonhei um dia

como se a alegria recolhesse a mão

pra não me alcançar

poderia até pensar

que foi tudo sonho

ponho meu sapato novo e vou passearsozinho,

como der,

eu vou até a beira

besteira qualquer nem choro mais

só levo a saudade morena

e é tudo que vale a pena"

Sapato Novo, Marcelo Camelo

Sim


“Eu disse a uma amiga:

— A vida sempre superexigiu de mim.

Ela disse:

— Mas lembre-se de que você também superexige da vida.

Sim.”
Clarice Lispector

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia.

Os Três Mal-Amados, de João Cabral de Melo Neto

Joaquim:
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

As falas do personagem Joaquim foram extraídas do poema "Os Três Mal-Amados", constante do livro João Cabral de Melo Neto - Obras Completas, Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.
.
P.S.: a extinta banda Cordel do Fogo Encantado gravou uma música com esse trecho, ouçam aqui.

Pleno


"Amanhã
Será um lindo dia
Da mais louca alegria
Que se possa imaginar
Amanhã
Redobrada a força
Pra cima que não cessa
Há de vingar
Amanhã
Mais nenhum mistério
Acima do ilusório
O astro-rei vai brilhar
Amanhã
A luminosidade
Alheia a qualquer vontade
Há de imperar
Amanhã
Está toda a esperança
Por menor que pareça
Que existe é pra vicejar
Amanhã
Apesar de hoje
Ser a estrada que surge
Pra se trilhar
Amanhã
Mesmo que uns não queiram
Será de outros que esperam
Ver o dia raiar
Amanhã
Ódios aplacados
Temores abrandados
Será pleno, será pleno"
Caetano Veloso

O quanto


"Chegou a reconhecê-la no tumulto através das lágrimas da dor que jamais se repetiria de morrer sem ela, e a olhou pela última vez para todo o sempre com os mais luminosos, mais tristes e mais agradecidos olhos que ela jamais vira no rosto dele em meio século de vida em comum, e ainda conseguiu dizer-lhe com o último alento:

- Só Deus sabe o quanto amei você."
Amor nos tempos de cólera, Gabriel Garcia Márquez

A fome e o amor

A um monstro

Fome! E, na ânsia voraz que, ávida, aumenta,
Receando outras mandíbulas a esbangem,
Os dentes antropófagos que rangem,
Antes da refeição sanguinolenta!

Amor! E a satiríasis sedenta,
Rugindo, enquanto as almas se confrangem,
Todas as danações sexuais que abrangem
A apolínica besta famulenta!

Ambos assim, tragando a ambiência vasta,
No desembestamento que os arrasta,
Superexcitadíssimos, os dois

Representam, no ardor dos seus assomos
A alegoria do que outrora fomos
E a imagem bronca do que inda hoje sois!

Augusto dos Anjos.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos

"História de um meninozinho que um dia descobriu a dor..."

Aceitarás o amor como eu o encaro ?...


Aceitarás o amor como eu o encaro ?...
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.


Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.


Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.


Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.


Mário de Andrade.

domingo, 16 de maio de 2010

A um passarinho


Para que vieste
Na minha janela
Meter o nariz?
Se foi por um verso
Não sou mais poeta
Ando tão feliz!
Se é para uma prosa
Não sou Anchieta
Nem venho de Assis.

Deixa-te de histórias
Some-te daqui!


Vinícius de Moraes.

sábado, 15 de maio de 2010

Arte de amar



Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Manuel Bandeira.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sombria revelação - O fim.

“a testa nobre de meu pai, ele próprio ainda úmido de vinho, brilhou um instante à luz morna do sol enquanto o rosto inteiro se cobriu de um branco súbito e tenebroso, e a partir daí todas as rédeas cederam, desencadeando-se o raio numa velocidade fatal: o alfanje estava ao alcance de sua mão, e, fendendo com um só golpe a dançarina oriental (que vermelho mais pressuposto, que silêncio mais cavo, que frieza mais torpe nos meus olhos!), não teria a mesma gravidade se uma ovelha se inflamasse, ou se outro membro qualquer do rebanho caísse exasperado, mas era o próprio patriarca, ferido nos seus preceitos, que fora possuído de cólera divina (pobre pai!), era o guia, era a tábua solene, era a lei q se incendiava

Lavoura Arcaica, trecho do capítulo 29.

Canções repletas de histórias...


Olá, amáveis literatas!

Chegamos ao fim de mais uma semana, e também à sexta edição do "Eu indico...". Anteriormente, nos enveredamos por caminhos da sétima arte, rememorando Aquela canção inesquecível que nos faz transbordar as emoções... E, aproveitando este rumo que tomamos, resolvi apresentar-lhes hoje Canções repletas de histórias. Tratam-se dos curtas-metragens que foram produzidos a partir de músicas, o que tornou o videoclipe mais que uma peça de divulgação. Tornou-se entretenimento. Não à toa que a indústria musical tenha despendido milhões em produções de clipes, como de fato ocorreu com vídeos do Michael Jackson, artista que foi pioneiro na arte dos curtas-metragens musicais, que gastou mais de dez milhões de dólares somente em dois deles.

A empreitada de Michael Jackson rendeu ao mundo da música muitas produções com histórias interessantes, capazes de nos entreter e nos propor reflexão. Um dos vídeos do cantor com maior impacto é o de Heal the World, que vocês podem conferir aqui. Além dele, muitos outros artistas usam de seus vídeos para passar mensagens positivas a respeito da humanidade, ou mesmo a respeito dos erros que cometemos ao tentarmos fugir de nossa condição de seres imperfeitos. Gosto, em particular, de The Scientist do Coldplay, que vocês podem conferir aqui e de Sunday Bloody Sunday, do U2 - veja aqui. Ademais destes, indico ainda Realize, de Colbie Caillat (confira aqui) e Precious Illusions, da Alanis Morrissette (confira aqui) - que foram outros dois vídeos que me vieram à mente quando pensei em curtas musicais, mas que, infelizmente, ficaram de fora da nossa seleção principal.

Lanço-lhes agora a pergunta da semana: qual é o seu vídeo com histórias preferido?

Agora, vamos à nossa sétima posição. Bem-vindas a mais um "Eu indico..."

Ela é cantora, compositora e produtora musical norte-americana. Consolidou sua carreira nos anos oitenta, e até hoje podemos conferir sua voz marcante por aí. O sétimo lugar é de Mariah Carey por sua dobradinha de curtas-metragens. No ano de 2005, a cantora lançou dois videoclipes, onde um é a continuação da história de outro. E sua façanha foi ainda maior, já que os estilos das músicas são bastante opostos. Interessante citar ainda que alguns artistas lançaram mão do recurso "continua..." e depois não deram continuidade a seu pequeno filme. De qualquer forma, espero que apreciem (e relembrem) a historieta de Mariah em It's like that e, em sequência, We belong together.




A exemplo de Mariah Carey, nossa sexta posição também inspirou-se em uma história dividida em duas partes. Contudo, a sequência ainda não fora produzida. Temos aqui uma parceria entre duas cantoras e dançarinas do cenário popular norte-americano. Estamos falando de Beyoncé Knowles e Lady Gaga, em uma trama bem bolada de duas amantes que decidem dar fim em pessoas indesejadas. Esta não é a primeira vez que trabalham juntas, vocês podem conferir o início da parceria aqui, em Videophone. Mas o curta da vez tem duração de quase dez minutos, com direito à caminhonete utilizada nas gravações de Kill Bill, e tem um leve aroma de vingança no ar. Com vocês, o divertidíssimo vídeo Telephone.




Vamos manter o clima bem-humorado em nossa quinta posição. Até que ponto você acredita naquilo que contam pra você? E até que ponto as histórias malucas são verdadeiras?! Este curta-metragem trata exatamente disto, de uma maneira bem leve e ao som da maravilhosa voz de Bon Jovi. Só me resta dizer: aproveitem a canção Misunderstood.



Já nossa quarta posição vem de uma saga de curtas-musicais. O álbum American Idiot, do Green Day, foi prato cheio para a indústria musical - praticamente todos os clipes produzidos foram baseados em histórias. O single Wake me up when september ends é palco dos tempos de guerra, muito associados aos atentados do Onze de Setembro nos Estados Unidos. E, muito embora o vocalista do grupo tenha afirmado que esta é uma composição em memória de seu falecido pai, esta primeira imagem ficou fortemente vinculada ao vídeo em questão. Confiram, clicando acima, o nosso escolhido para o quarto lugar.




Com nossa medalha de bronze, temos um grupo canadense de rock 'n' roll, formado no ano de 1995, o Nickelback. Este vídeo tem uma história linda e triste, que é contada e recontada com muita sutileza. Até mesmo agora, que vejo pela vigésima vez, descubro minúcias antes desprezadas. E, confesso, meus olhos enchem de lágrima toda vez que assisto... Merecem também destaque Photograph e Far away. Com vocês, nossa terceira posição, Someday.




Na segunda posição, temos o famoso curta-metragem da caixinha de leite. Fruto do trabalho da banda inglesa, Blur, que é conhecido também por suas produções em filminhos, este videoclipe é um dos mais aclamados da história. Que lição podemos tirar com ele? Que tal passarmos a prestar mais atenção naquilo que está à nossa volta?! E mais, que tal deixarmos nossa pequenez de lado e sairmos em grandes buscas? Dou destaque também para Parklife. Mas quem fica com a nossa medalha de prata é o vídeo Coffe & Tv.



Com a nossa medalha de ouro, um dos dez vídeos mais caros de toda a história da música. Produzido em 1992, com a duração de nove minutos, o videoclipe da canção do grupo americano Guns n' Roses tem uma história triste, mas também muito bela. É a minha canção favorita da banda, sem sombra de dúvidas. Ofereço a vocês nossa primeira posição, November Rain.




E, antes de me despedir, não poderia deixar de prestar uma homenagem ao verdadeiro idealizador dos curtas-metragens musicais. Afinal, sem Michael Jackson, os vídeos como conhecemos hoje não existiriam. Então, para encerrar, dedico a vocês Thriller, a primeira superprodução musical de curtas, com treze minutos de duração.




Até a próxima!

PS: Mel, o seu pedido será atendido em breve. E, meninas, gostaria de mais sugestões de temas para nossas paradas musicais.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Um caso à parte

Raduan Nassar é um caso à parte. Seu romance Lavoura arcaica foi publicado em 1975 e Um copo de cólera (que havia sido escrito em 1970), em 1978, uma novela de oitenta e poucas páginas que talvez revele melhor o período da ditadura militar do que alguns romances que tentaram retratá-lo de maneira explícita. Suas narrativas simples atingem uma densidade rara, com passagens que têm a marca do sublime. A linguagem límpida e rica, cuja intensidade, mesmo quando hiperbólica, nunca parece excessiva, está em harmonia com o perfeito domínio dos climas e dos ritmos.

Trecho do texto "De Machado a Clarice: a força da literatura", de João Antonio (extraído diretamente da nossa apostila de Modernismo brasileiro!)
"Quando te vi amei-te já muito antes

Tornei a achar-te quando te encontrei.

Nasci pra ti antes de haver o mundo.

Não há cousa feliz ou hora alegre

Que eu tenha tido pela vida fora,

Que o não fôsse porque te previa,

Porque dormias nela tu futuro. "

Fernando Pessoa

quarta-feira, 12 de maio de 2010



Quando percebeu que avistava o distante passarinho, nuvens cinzentas se formaram sobre sua cabeça. Sob seus pés a lama fria. Entre seus dedos a pena, sua esperança. 'Correr para onde?' - pensava - 'Correr para quê?'. Com o vestido colado no corpo e a alma colada nos sonhos, ergueu a cabeça. Abriu os braços como quem pretende, e consegue, abraçar o mundo. Nadou nos pingos da chuva grossa, pulando e se sujando com a lama. Mas a lama é feita da terra, e nada que é da terra se suja. Ouviu o choro da chuva que levava tudo embora, lamentando não poder ser mais serena, nem poder lhe dar o direito de escolher o que ia e o que ficava. Ela escoou todo o cansaço. Ela se olhou e o riso veio. Trazendo a pontinha de tudo que acabara de partir. Ainda em êxtase e mais segura entre seus pensamentos, ria olhando o avesso das pálpebras vermelhas. Enquanto isso, o calor sob seus pés aumentava e ela podia sentir a grama crescendo, o ranger das folhas envelhecendo dolorosamente. Num só movimento, deu um salto. Saltou com a mente para o passado. Nada reluzia em seu passado. Mas, não como antes, sentiu a brisa das boas lembranças acariciar-lhe os braços. Aquilo era mais do que um sonho, um déjà vu. Algo dentro daquela pequena cabeça de finos fios cor de cravo havia mudado. O corpo de joelhos sob a chuva nem de longe se assemelhava ao toque sutil do canto do passado. O pássaro. Ao abrir os olhos, olhando para o céu, viu que já era noite. Mas, antes disso, viu mais. Pintados de negro no clarão do céu. O som das dezenas de asas. Voavam em círculos em seu redor.


O Passarinho.

Vazio


A noite é como um olhar longo e claro de mulher.
Sinto-me só.
Em todas as coisas que me rodeiam
Há um desconhecimento completo da minha infelicidade.
A noite alta me espia pela janela
E eu, desamparado de tudo, desamparado de mim próprio
Olho as coisas em torno
Com um desconhecimento completo das coisas que me rodeiam.
Vago em mim mesmo, sozinho, perdido
Tudo é deserto, minha alma é vazia
E tem o silêncio grave dos templos abandonados.
Eu espio a noite pela janela
Ela tem a quietação maravilhosa do êxtase.
Mas os gatos embaixo me acordam gritando luxúrias
E eu penso que amanhã...
Mas a gata vê na rua um gato preto e grande
E foge do gato cinzento.
Eu espio a noite maravilhosa
Estranha como um olhar de carne.
Vejo na grade o gato cinzento olhando os amores da gata e do gato preto
Perco-me por momentos em antigas aventuras
E volto à alma vazia e silenciosa que não acorda mais
Nem à noite clara e longa como um olhar de mulher
Nem aos gritos luxuriosos dos gatos se amando na rua.

Rio de Janeiro, 1933.

Retirado do livro: O caminho para a distância, de Vinícius de Moraes.

O irmão acometido


“como último recurso, querida Ana, te chamo ainda à simplicidade, te incito agora a responder só por reflexo e não por reflexão, te exorto a reconhecer comigo o fio atávico desta paixão: se o pai, no seu gesto austero, quis fazer da casa um templo, a mãe, transbordando no seu afeto, só conseguiu fazer dela uma casa de perdição
(...)
“tenho sede, Ana, quero beber” eu disse já coberto de queimaduras, eu era inteiro um lastro de carne viva: “não tenho culpa desta chaga, deste cancro, desta ferida, não tenho culpa deste espinho, não tenho culpa desta intumescência, deste inchaço, desta purulência, não tenho culpa deste osso túrgido, e nem da gosma que vaza pelos meus poros, e nem deste visgo recôndito e maldito, não tenho culpa do meu delírio: uma conta do teu rosário para a minha paixão, duas contas para os meus testículos, todas as contas deste cordão para os meus olhos, dez terços bem rezados para o irmão acometido!”

Lavoura Arcaica, trechos do capítulo 20.

Lembrança...



"Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia –qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido."

Caio Fernando Abreu.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Mergulhe


"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

Clarice Lispector

segunda-feira, 10 de maio de 2010

"(...) ela estava agora diante de mim, de pé ali na entrada, branco branco o rosto branco filtrando as cores antigas de emoções tão diferentes, compondo com a moldura da porta o quadro que ainda não sei onde penduro (...)"

Trecho de Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar.

- felicidade

O tempo é sempre abundante em suas entregas...

"[...]Ai daquele, mais lascivo, que tudo quer ver e sentir de um modo intenso: terá as mãos cheias de gesso, ou pó de osso, de um branco frio, ou quem sabe sepulcral, mas sempre a negação de tanta intensidade e tantas cores: acaba por nada ver, de tanto que quer ver; acaba por nada sentir, de tanto que quer sentir; acaba só por expiar, de tanto que quer viver; cuidem-se os apaixonados, afastando dos olhos a poeira ruiva que lhes turva a vista, arrancando dos ouvidos os escaravelhos que provocam turbilhões confusos, expurgando do humor das glândulas o visgo peçonhento e maldito; erguer uma cerca ou guardar simplesmente o corpo, são esses os artifícios que devemos usar para impedir que as trevas de um lado invadam e contaminem a luz do outro, afinal, que força tem o redemoinho que varre o chão e rodopia doidamente e ronda a casa feito fantasma, se não expomos nossos olhos à sua poeira? é através do recolhimento que escapamos ao perigo das paixões, mas ninguém no seu entendimento há de achar que devamos sempre cruzar os braços, pois em terras ociosas é que viceja a erva daninha: ninguém em nossa casa há de cruzar os braços quando existe a terra para lavrar, ninguém em nossa casa há de cruzar os braços quando existe a parede para erguer, ninguém ainda em nossa casa há de cruzar os braços quando existe o irmão para socorrer; caprichoso como uma criança, não se deve contudo retrair-se no trato do tempo, bastando que sejamos humildes e dóceis diante de sua vontade, abstendo-nos de agir quando ele exigir de nós a contemplação, e só agirmos quando ele exigir de nós a ação, que o tempo sabe ser bom, o tempo é largo, o tempo é grande, o tempo é generoso, o tempo é farto, é sempre abundante em suas entregas [...]"


Trecho de Lavoura Arcaica. Raduan Nassar.

Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam

não se sabe de onde e pousam

no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam vôo

como de um alçapão.

Eles não têm pouso

nem porto;

alimentam-se um instante em cada

par de mãos e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,

no maravilhado espanto de saberes

que o alimento deles já estava em ti...


Mário Quintana.

domingo, 9 de maio de 2010

Enquanto o mar bate azul em Ipanema...

Onde andarás
Onde andarás nesta tarde vazia
Tão clara e sem fim
Enquanto o mar bate azul em Ipanema
Em que bar, em que cinema te esqueces de mim?
Enquanto o mar bate azul em Ipanema
Em que bar, em que cinema te esqueces...
Eu sei, meu endereço apagaste do teu coração
A cigarra do apartamento
O chão de cimento existem em vão
Não serve pra nada a escada, o elevador
Já não serve pra nada a janela
A cortina amarela, perdi meu amor
E é por isso que eu saio pra rua
Sem saber pra quê
Na esperança talvez que o acaso
Por mero descaso me leve a você
Na esperança talvez que o acaso
Por mero descaso
Me leve... eu sei
Ouçam aqui essa música do Caetano Veloso.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Aquela canção inesquecível...


Olá, estimadas literatas!

Bem-vindas a mais uma edição do "Eu indico...". Anteriormente, passeamos mundo afora, Abandonando os confins brasileiros , e nos deliciamos com produções musicais de diversos países... Confesso que me deu muita vontade de continuar aquela viagem, indo a locais muito mais exóticos, como algum país árabe ou mesmo o Japão... Contudo, hoje, faremos um passeio diferente nessa esfera temporal...Sabe Aquela canção inesquecível... das cenas de cinema? Aquela, que casa tão perfeitamente com o acontecimento que dá vontade de viver em um filme?! Pois são estas as canções que vão compor o nosso cenário nesta sexta-feira.

Quem nunca parou diante de uma cena como as de cinema e ficou imaginando-se nela? Imaginando como seria viver neste paraíso, onde tudo pode ser compreendido por meio de uma canção? Imaginando todas aquelas danças maravilhosas, aquele jantar à luz de velas e tudo o mais que parece existir apenas em livros e nas telonas?! Ou mesmo aquela declaração de amor, cantarolada especialmente para você?! São tantos os cenários, tantas as situações que nos levam ao mundo da sétima arte...

Posso dizer, sem qualquer dúvida, que esta seleção tornou-se a mais delicada de todas as que fiz, pois baseei-me em puro gosto pessoal, já que escolher apenas sete canções de tantas cenas magníficas que existem seria desmerecer tantos outras películas que não foram escolhidas. Aproveito, então, para já lhes fazer a pergunta da semana: qual é a trilha sonora que mais lhe marcou em sua vida?!

Bom, sem mais delongas, vamos à nossa sétima posição.Quem não se lembra da cena em que um lutador sai correndo em seu moletom cinza até chegar ao topo de uma escadaria? Aonde foi que eu vi isso? Foi em um filme, um seriado? Provavelmente, nos dois. Esta é uma das cenas mais parodiadas e reinventadas da história do cinema, sendo a original parte do filme Rocky II - A Revanche, com Sylvester Stallone. A sequência foi lançada em 1979, e compõe a história do boxeador que está dividida em seis películas. Fiquem com a cena de Rocky, com a canção Eye of the Tiger, do grupo Survivor.




E quem não se lembra de um tipo usando um chapéu, um casaco sobre seu terno e gravata e guarda-chuvas? Bem, na verdade, o guarda-chuvas vira apenas adereço, já que ele se recusa a ficar debaixo dele... Estamos falando do longa-metragem de 1952, estreado por Gene Kelly, Cantando na chuva. É uma história linda, e sua canção é simplesmente contagiante... dá até vontade de sair dançando sob os pingos d'água... Com vocês a nossa sexta posição, Singing in the rain.




Quem nunca matou aula para fazer coisa mais interessante?! Em nossa quinta posição, temos Curtindo a vida adoidado, lançado em 1986, onde um adolescente, sua namorada e seu melhor amigo decidem sair por aí, em um dia normal de aulas, para aproveitar a vida. Ao som de Beatles, com Twist and Shout, podemos presenciar a algazarra que Ferris Bueller apronta neste clássico dos anos 1980'...




E quem nunca desejou uma declaração de amor em público? Especialmente se o seu amado estiver cantando algo bem romântico?! Mas, é claro, uma pitadinha de humor não faz mal a ninguém... Hei de confessar que esta é uma das cenas que me fazem desejar ter nascido em um filme...Em nossa quarta posição temos Heath Ledger, em Dez coisas que eu odeio em você (1997), cantando o sucesso de Diana Ross, Can't take my eyes off of you (I love tou baby).



Ah...e quem nunca desejou ser amada por alguém tão intensa e puramente, que fosse capaz de alimentar este amor até além da vida? Esta é uma das histórias mais ternas e belas do cinema nos anos 1990'. Com vocês, nossa terceira posição, o filme Ghost. Aproveitem as cenas de Demi Moore e Patrick Swayze ao som de Righteous Brothers, com Unchained Melody.




Sabe aquele amor que ultrapassa fronteiras?! Aquele, que nos faz abrir mão de tudo o que temos para estarmos com a pessoa amada, mesmo que por alguns segundos?! Quem nunca desejou isto?!Nada representa melhor do que Cidade dos Anjos (1998), um dos meus filmes prediletos, e que já me arrancou boas lágrimas. Afinal, o que não vale o amor puro? Neste caso, vale toda a dor, todo o sofrimento, e, acima de tudo, toda a paixão. Dedico a vocês, então, a canção Iris, do grupo Goo Goo Dolls.





Chegamos à nossa primeira posição, e ao que podemos chamar de perfeita cena de cinema. A cumplicidade dos olhares, a sincronia em seus pensamentos e passos...tudo isso faz de Ritmo Quente (1987) um dos melhores filmes que já vi - é meu favorito, aliás. E quem nunca ouviu aquela canção da dança final e não se recordou do filme imediatamente? É por essas e por outras que (I've had) the time of my life , de Bill Medley & Jennifer Warnes e She's like the Wind, de Patrick Swayze levam a nossa medalha de ouro.




Espero que tenham gostado da nossa seleção de hoje.
E, ah, gostaria de uma sugestão de tema para a nossa próxima sexta-feira.

Até lá.