Post dedicado à lua (belíssima sempre) e às minhas Luzes :)
O céu estava alto, todo picado de astros que pareciam próximos como se dele estivessem invisivelmente dependurados, poalha de vidro, véu de leite nevado, e as grandes constelações fulgiam dramaticamente, o Boieiro, as Duas Ursas, o Sete-Estrelo, sobre os rostos alçados dos dois homens caía uma chuvinha feita de pequenos cristais de luz que se agarravam à pele, ficavam presos nos cabelos, não foi a primeira vez que o fenômeno se deu, mas num repente calaram-se todos os murmúrios da noite, por cima das árvores apareceu o primeiro alvor da lua, agora terão as estrelas de apagar-se. Então Joaquim Sassa disse, Com uma noite destas até sou capaz de dormir debaixo da figueira, se me emprestar uma manta, Faço-lhe companhia. Amontoaram, ajeitaram depois uma quantidade suficiente de palha para as camas, como para o gado se faz, estenderam as mantas, sobre um lado delas se deitaram, com o outro se cobriram. Os estorninhos espreitavam dos ramos os dois vultos, Quem será aquele, debaixo da árvore e nos ramos está tudo acordado, com um luar assim vai ter o sono de batalhar muito. A lua sobe, sobe depressa, a copa baixa e redonda da figueira transforma-se em labirinto de negro e branco, e José Anaiço diz, Estas sombras não estão já como eram, Moveu-se a península tão pouco, uns metros, o efeito não pode ter sido grande, observou Joaquim Sassa, feliz por ter compreendido o comentário, Moveu-se, e bastou para que as sombras todas se tivessem tornado diferentes, há aí ramos que a luz da lua toca pela primeira vez a esta hora.
O céu estava alto, todo picado de astros que pareciam próximos como se dele estivessem invisivelmente dependurados, poalha de vidro, véu de leite nevado, e as grandes constelações fulgiam dramaticamente, o Boieiro, as Duas Ursas, o Sete-Estrelo, sobre os rostos alçados dos dois homens caía uma chuvinha feita de pequenos cristais de luz que se agarravam à pele, ficavam presos nos cabelos, não foi a primeira vez que o fenômeno se deu, mas num repente calaram-se todos os murmúrios da noite, por cima das árvores apareceu o primeiro alvor da lua, agora terão as estrelas de apagar-se. Então Joaquim Sassa disse, Com uma noite destas até sou capaz de dormir debaixo da figueira, se me emprestar uma manta, Faço-lhe companhia. Amontoaram, ajeitaram depois uma quantidade suficiente de palha para as camas, como para o gado se faz, estenderam as mantas, sobre um lado delas se deitaram, com o outro se cobriram. Os estorninhos espreitavam dos ramos os dois vultos, Quem será aquele, debaixo da árvore e nos ramos está tudo acordado, com um luar assim vai ter o sono de batalhar muito. A lua sobe, sobe depressa, a copa baixa e redonda da figueira transforma-se em labirinto de negro e branco, e José Anaiço diz, Estas sombras não estão já como eram, Moveu-se a península tão pouco, uns metros, o efeito não pode ter sido grande, observou Joaquim Sassa, feliz por ter compreendido o comentário, Moveu-se, e bastou para que as sombras todas se tivessem tornado diferentes, há aí ramos que a luz da lua toca pela primeira vez a esta hora.
Trecho de A jangada de pedra, de José Saramago.
Esse foi o trecho mais lindo do Saramago que já li!
ResponderExcluiruma tristeza, quase nunca me lembro de olhar para a lua!
ResponderExcluirAi! Gostei muito! Parece mesmo ser bom esse livro!
ResponderExcluir