terça-feira, 25 de maio de 2010

Eva Luna


“Quando pude ler corretamente, ele me trouxe novelas românticas, todas no mesmo estilo: secretária de lábios túrgidos, seios mórbidos e olhos cândidos conhece executivo de músculos de bronze, têmporas prateadas e olhos de aço. Ela é sempre virgem, mesmo no caso incomum de ser viúva, ele é autoritário, superior a ela em todos os sentidos, há um desentendimento por ciúmes ou por herança, mas tudo se ajeita e ele a toma nos braços metálicos, ela suspira sufocadamente e ambos são arrebatados pela paixão, mas nada grosseiro ou carnal. O apogeu era um único beijo que os conduzia ao êxtase de um paraíso sem retorno: o casamento. Depois do beijo nada mais havia, apenas a palavra “fim”, coroada de flores ou pombinhos. Em pouco tempo, na terceira página eu já adivinhava o argumento e, para distrair-me, modificava tudo, desviando o enredo para um desenlace trágico, muito diferente do idealizado pelo autor e mais de acordo com minha incurável tendência à morbidez e violência.”


Contos de Eva Luna, Isabel Allende

4 comentários:

  1. Isabel Allende domina muito bem as palavras, é lindo!

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  2. esse livro é absolutamente sensacional... recomendo!

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  3. Hummm... Não conhecia essa autora!
    Nossa! Pior que eu me identifico com isso de gostar de modificar o enredo, mas não necesariamente com morbidez e violência... Hahaha
    Mas eu quase nunca fico satisfeita com o desenlace das histórias... aí sempre imagino como eu gostaria que fosse! haha

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