quarta-feira, 23 de maio de 2012

mentalidades


- Vai mal a Ana Turva. De manhã já está dopada. E faz dívidas feito doida, tem cobrador aos montes no portão. As freirinhas estão em pânico. E esse namorado dela, o traficante...
- O Max? Ele é traficante?
- Ora, então você não sabe - resmungou Lião arrancando um fiapo de unha do polegar. - E não é só bolinha e maconha, cansei de ver a marca das picadas. Devia ser internado imediatamente. O que também não vai adiantar no ponto em que chegou. Enfim, uma caca.
Abro as mãos no tapete. Examino minhas unhas.
- Divino-maravilhoso se o noivo milionário se casar com ela. Empresto o oriehnid para a plástica na zona sul, ele só se casará com uma virgem, ela tem que ficar virgem. Ai meu Pai.
- Você acredita que casamento rico vai resolver? - perguntou Lia. Teve um sorriso triste: - Devia se envergonhar de pensar assim, Lorena. E vai sair casamento? O moço então não está sabendo de toda essa curtição? Ao invés de ficar pensando no milagre do casamento você devia pensar num milagre de verdade, entende? Não sei explicar mas vocês, cristãos, têm uma mentalidade tão divertida.

As meninas, Lygia Fagundes Telles.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Estamos morrendo


Acendo um cigarro. Que me importa dormir no meio dos bêbados, das putas, o cigarro aceso no meu peito, dói sim, mas se soubesse que você está livre, dormindo na estrada ou debaixo da ponte. Mas livre. Não sei aguentar sofrimento dos outros, entende? O seu sofrimento, Miguel. O meu aguentaria bem, sou dura. Mas se penso em você fico uma droga, quero chorar. Morrer. E estamos morrendo. Dessa ou de outra maneira não estamos morrendo?

As meninas, Lygia Fagundes Telles.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A delícia da manhã


À sombra das araucárias
Manuel Bandeira

Não aprofundes o teu tédio.
Não te entregues à mágoa vã.
O próprio tempo é o bom remédio:
bebe a delícia da manhã.

A névoa errante se enovela
na folhagem das araucárias.
Há um suave encanto nela
que enleia as almas solitárias...

As cousas têm aspectos mansos.
Um após outro, a bambolear,
passam, caminho d'água, os gansos.
Vão atentos, como a cismar...

No verde, à beira das estradas,
maliciosas em tentação,
riem amoras orvalhadas.
Colhe-as: basta estender a mão.

Ah! Fosse tudo assim na vida!
Sus, não cedas à vã fraqueza.
Que adianta a queixa repetida?
Goza o painel da natureza.

Cria, e terás com que exaltar-te
no mais nobre e maior prazer.
A afeiçoar teu sonho de arte,
sentir-te-ás convalescer.

A arte é uma fada que transmuta
e transfigura o mau destino.
Prova. Olha. Toca. Cheira. Escuta.
Cada sentido é um dom divino.

terça-feira, 15 de maio de 2012

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Cavaleiro selvagem

"Cavaleiro selvagem
Cavaleiro selvagem
Cavaleiro selvagem
Aqui te sigo (aqui te sigo)
Como a estaca do meu viver
Tua aura reluz
Teu canto conduz
Eleva mais e mais e mais
Te vejo na beleza de um novo dia
Me faz ver na tristeza, sabedoria
Raiz que nunca saiu daqui, sempre morou aqui
Amor, que seja como for
Cavaleiro selvagem
Cavaleiro selvagem
Cavaleiro selvagem
Aqui te sigo (aqui te sigo)
Sereno sobre as casas
Livre, bonito
É vento sob as asas
Estrela-guia
Rumo, norte, figa, sorte
Cor e criança
Vem
Trazendo o nosso sol
Vai
Levando todo o mal
Como quiser, hora, lugar
Quando disser, vou lá
Cavaleiro selvagem
Cavaleiro selvagem
Cavaleiro selvagem
Aqui te sigo
Aqui te sigo"
Cavaleiro selvagem, Mariana Aydar

segunda-feira, 7 de maio de 2012

É bom ser menina


"Deita
O corpo pra cá
Pra variar
A lua brilhando
No calcanhar
A rede balança
Sem descansar
E o tempo não cansa
Na varanda, na varanda...
Deixa
A vida pra lá
Pra variar
Que é hora é nossa
Nesse lugar
A noite é tão linda
Que eu vou ficar
É bom ser menina
Na varanda, na varanda..."
Na varanda de Liz,  Tiê.