segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mais eis que Pavel se levantou


"Mais eis que Pavel se levantou e logo se fez um silêncio inesperado. A mãe inclinou-se toda para e frente. Pavel começou tranquilamente:

- Como militante do partido, e não falarei para me defender, mas para satisfazer o desejo dos camaradas que também não quiseram um advogado. Vou tentar explicar-vos o que não compreenderam. O procurador qualificou a nossa manifestação sob a bandeira da socialdemocracia de revolta contra o poder supremo e falou constantemente de nós como amotinados contra o tsar. Quero aqui declarar que, para nós, a autocracia não é a única cadeia que mantém o país escravo, ela é apenas a primeira delas, a mais tangível, da qual queremos libertar o povo...

...

- Somos socialistas. Isto significa que somos inimigos da propriedade privada, que divide os homens, que os arma uns contra os outros, cria uma rivalidade inconciliável de interesses, mente ao pretender esconder ou justificar esse antagonismo e perverte todos com a mentira, a hipocriasia e o ódio. Nós dizemos que uma sociedade que considera o homem como um instrumento para enriquecer é desumana, essa sociedade nos é adversa; nós não aceitamos a sua moral hipócrita e falsa. O seu cinismo e crueldade para com os seres humanos repugna-nos; nós queremos lutar, nós lutaremos contra todas as formas de servidão física e moral do homem por esta sociedade, contra todos os processos de exploração a serviço da ambição. Nós, operários, cujo trabalho criou tudo, desde as máquinas gigantescas até os brinquedos das crianças, nós que estamos privados do direito de lutar pela nossa dignidade humana, nós, que todos procuram transformar em instrumentos para atingirem seus fins, queremos agora ter a liberdade suficiente para que nos seja possível , com o tempo, conquistar todo o poder. As nossa palavras de ordem são simples: Abaixo a propriedade privada! Todos os meios de produção para o povo! Trabalho obrigatório para todos! Como vêem , não somos amotinados!

...

- Nós somos revolucionários e assim seremos enquanto houver alguns que apenas mandam e outros que apenas trabalham. Nós lutamos contra a sociedade cujos interesses vos ordenaram que defendêsseis e da qual somos inimigos irredutíveis, como somos também vossos e a reconciliação entre nós só poderá ser possível depois de termos vencido. E nós, os operários, venceremos. Os vossos mandatários estão longe de ser tão forte como pensam! os bens que eles juntam e que protegem sacrificando milhões de seres que subjugaram, essa mesma força que lhes dá o poder sobre nós, provocam entre eles próprios contradições antagônicas e arruinam-nos física e moralmente. A propriedade exige um esforço demasiado grande para se defender e, na realidade, vós todos, nossos donos, sois mais escravos do que nós: a vós, escravizaram-vos o espírito; a nós, o corpo. Não conseguireis libertar-vos do julgo dos preconceitos e dos hábitos que vos matam moralmente; a nós, nada nos impede de sermos interiormente livres; o veneno com que nos intoxicais é mais fraco do que o contra veneno que derramais, sem querer, na nossa consciência. E essa consciência cresce, desenvolve-se sem parar, inflama-se cada vez mais e chama a ela tudo o que há de melhor, de moralmente são, mesmo do vosso meio. Vede: não tendesjá mais ninguém que lute ideologicamente em nome do vosso poderio, esgotastes já todos os argumentos capazes de vos protegerm contra o avanço da justiça histórica; nada mais podereis criar de novo no domínio das idéias, sois ideologicamente estéreis. As nossa idéias crescem, iluminam com crescente claridade, ganham as massas populares e organizam-nas para a luta libertadora. A consciência do grande papel da classe operária une todos os trabalhadores do mundo numa só alma, sendo-vos absolutamente impossível travar o processo da renovação da vida, a não ser com a crueldade e o cinismo. Mas o cinismo é evidente e a crueldade irrita. E as mãos que hoje nos estrangulam, apertarão em breve as nossas mãos. A vossa energia é a energia mecânica do aumento do ouro, ela une-vos em grupos condenados a devorarem-se mutuamente. A nossa energia é uma força viva - a crescente consciência da solidariedade entre todos os operários. Tudo o que fazeis é criminoso, pois o vosso único fim é escravizar os homens; o nosso trabalho liberta o mundo dos fantasmas e dos monstros engendrados pelas vossas mentiras, o vosso ódio e a vossa ambição para atemorizar o povo. Arrancastes o homem da vida e esmagaste-lo ; o socialismo unirá o mundo destruído por vós num único todo grandioso. Assim será!

Pavel parou um instante e repetiu mais lentamente, com mais força:

- Assim será!




Trecho do julgamente de Pavel e outros de seus companheiros militantes e operários do livro A mãe de Máximo Gorki.

4 comentários:

  1. Gente esse é o trecho que coloquei nos cartazes na parede! Leiam é muito tocante!

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  2. "a nós, nada nos impede de sermos interiormente livres"
    todos queremos ser livres!!

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  3. O encontro foi LINDO! ESPECIAL!
    Adorei o mês!
    Estou ansiosa para conhecer a Alma imoral do rabino Bonder!!

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  4. Lu, essa sua escolha foi realmente especial! Queria dizer que aprendi muito, vi o quanto somos presos nessa realidade mesquinha, de espíritos que desejam liberdade!
    Amei essa experiência!

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