quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Alquimia


"Parecia que o alimento que estava ingerindo produzia nela um efeito afrodisíaco, pois começou a sentir que um intenso calor lhe invadia as pernas. Um formigamento no centro do corpo não a deixava ficars entada direita em sua cadeira. Começou a suar e a imaginar o mesmo que sentiria se estivesse sentada no lombo de um cavalo, abraçada por um soldado villista, um desses que tinha visto uma semana antes entrando na praça da cidade, cheirando a suor, a terra, a amanheceres de perigo e incertezas, a vida e a morte. Ela ia ao mercado em companhia de Chencha, a criada, quando o viu entrar pela rua principal de Piedras Negras, vinha na frente de todos, obviamente capitaneando a tropa. Seus olhares se encontraram e o que viu nos olhos dele fez com que ela tremesse. Viu muitas noites junto ao fogo desejando a companhia de uma mulher à qual pudesse beijar, uma mulher que pudesse beijar, uma mulher que pudesse abraçar, uma mulher... como ela. Tirou um lenço e tentou, junto com o suor, afastar de sua mente todos esses pensamentos pecaminosos.
Mas era inútil, alguma coisa estranha acontecia com ela. Tentou buscar apoio em Tita, porém ela estava ausente, com o corpo sobre a cadeira, sentado, muito aprumadamente, é claro, mas sem nenhum sinal de vida nos olhos. Desse jeito parecia que num estranho fenômeno de alquimia seu ser tivesse se dissolvido no molho das rosas, no corpo das codornas, no vinho e em cada um dos odores da comida. Desta maneira penetrava no corpo de Pedro, voluptuosa, aromática, ardente, completamente sensual."


Como água para chocolate, Laura Esquivel.

4 comentários:

  1. Esse livro é contagiante!Queria postar ele inteirinho!!To apaixonada!!

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  2. Gente, essa autora é um gênio! Como é envolvente!

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  3. Concordo plenamente! é tão sensual e ao mesmo tempo bonito! "Seus olhares se encontraram e o que viu nos olhos dele fez com que ela tremesse."

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  4. Ai gente, que envolvente isso! Preciso ler algo assim também!

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