quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Gargalhada




Gargalhada

Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...

O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.

Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas...

Escuta bem:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Só de três lugares nasceu até hoje essa música heróica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim.

Cecília Meireles

5 comentários:

  1. Luzia, esse post ficou muito, muito lindo! Que imagem mais fofa e que poema mais animador! Eu não o conhecia, adorei :)

    ResponderExcluir
  2. Nossa, esse poema é muito intenso! Que escolha rica, Lu!

    ResponderExcluir
  3. NOssa, eu e a Mel postamos no mesmo minuto hehe!

    ResponderExcluir
  4. "O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada"
    Precisamos de mais Cecília por aqui!!

    ResponderExcluir