Sou um homem  marcado ... 
Em país  ocupado 
Pelo estrangeiro. 
Sou  marinheiro 
Desembarcado; 
Marcho na  bruma das madrugadas;
                                                     Mas- 
Trago das  águas 
A substância 
Da  claridade. 
DA  CLARIDADE! 
Sou o  indefinido, 
O inesperado 
Viajante da  tarde nua, 
Que uma dor  augusta comoveu ... 
Tudo a  renuncia, 
                        Tudo 
O que eu  conservo 
De altivo e  puro, 
Sob o meu  manto adormeceu. 
Em outros  tempos e antigos 
Plantei  alfaces, vendi craveiros, 
Fui  hortelão, fui jardineiro; 
E a escura  terra ...
                            Terra 
Dos meus  canteiros, 
Sempre  arqueava o dorso 
Ao gesto  amigo 
De minha  mão. 
Hoje provo,  na boca, um desgosto, 
Hoje tenho,  no sangue, um sinal 
Que não foi  e não é das algemas 
Da prisão da  Vida, 
Nem do jugo  da Terra, 
Nem do  pecado original. 
Muito bem  sei, senhores, 
Que sou um  sonho cravado na morte, 
Que sou um  homem ferido no olhar ... 
E que trago,  bem viva, entre as nódoas do mundo, 
A mancha do  meu país natal. 
Sou um homem  manchado de sombra 
No sonho, no  sangue, no olhar, 
Sou um homem  marcado ... 
Em país  ocupado 
Pelo  estrangeiro. 
Mas esta  marca temerária
Entre a  cinza das estrelas
Há de um dia  se apagar! 
Por isso é  que me amparo às mãos dispersas da noite ...
E pelos pés  difusos do vento é que marcho 
Na bruma das  madrugadas ... 
Trazendo das  águas a substância 
Da claridade 
E um cheiro  manso 
De manhã  fria ... 
Oh!  Soledade! 
Oh!  Harmonia! 
Joaquim Cardozo.

Não sei porque, mas quando li esse poema o imaginei numa praia, então escolhi essa imagem...
ResponderExcluirGente, olha a força desse poema, que coisa incrível! Fiquei com vontade de analisá-lo, vejam só esses versos:
ResponderExcluir"Sou um homem marcado...
Em país ocupado
Pelo estrangeiro
[...]
que trago, bem viva, entre as nódoas do mundo,
A mancha do meu país natal."
Produção literária em condição periférica!
Tive que ler duas vezes pra sugar tudo que esse poema oferece!!Riquissimo!!
ResponderExcluirRealmente esse poema marca muito bem a condição periférica da literatura e do homem latino-americano. Temos que trazer ao blog mais poemas como esse!
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