sábado, 3 de julho de 2010

Viver e escrever, por Clarice.



“Quando comecei a escrever, que desejava eu atingir? Queria escrever alguma coisa que fosse tranqüila e sem modas, alguma coisa como a lembrança de um alto monumento que parece mais alto porque é lembrança. Mas queria, de passagem, ter realmente tocado no monumento. Sinceramente não sei o que simbolizava para mim a palavra monumento. E terminei escrevendo coisas inteiramente diferentes.”
“Não sei mais escrever, perdi o jeito. Mas já vi muita coisa no mundo. Uma delas, e não das menos dolorosas, é ter visto bocas se abrirem para dizer ou talvez apenas balbuciar, e simplesmente não conseguirem. Então eu quereria às vezes dizer o que elas não puderam falar. Não sei mais escrever, porém o fato literário tornou-se aos poucos tão desimportante para mim que não saber escrever talvez seja exatamente o que me salvará da literatura.
O que é que se tornou importante para mim? No entanto, o que quer que seja, é através da literatura que poderá talvez se manifestar.”
“Até hoje eu por assim dizer não sabia que se pode não escrever. Gradualmente, gradualmente até que de repente a descoberta tímida: quem sabe, também eu já poderia não escrever. Como é infinitamente mais ambicioso. É quase inalcançável”.

Clarice Lispector.
Leia outros trechos de Clarice, aqui.

4 comentários:

  1. Meninas, a imagem aparece centralizada pra vcs?
    =*

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  2. Não, Dani, a imagem está no lado esquerdo!
    Gente, impressionante isso, Clarice ambiciona um dia não escrever...
    Acho o máximo quando os escritores falam do seu processo de criação!

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  3. Passei um final de semana mergulhada em Clarice. É doloroso, mas ao mesmo tempo profundamente libertador!Que mulher!

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