Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia...
Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.
Carlos Drummond de Andrade
Nel, eu juro pra vc q eu tava com esse poema no CTRL+C pra postar aqui no blog!!!! Quando entro, eis o poema!!! *___*
ResponderExcluirQue lindaaaa sintonia!!!!!
Hoje eu tava conversando com a Adriana sobre "coisas do coração", hehe, e ela me falou desse poema! Eu não conhecia, mas quando cheguei em casa e li, tive que colocar imediatamente no blog!
ResponderExcluirE não é a primeira vez que acontece essa sintonia, né Lu? :)
Não conhecia, adorei!
ResponderExcluirTambém não conhecia esse, mas achei que lembrou muitooo Augusto dos Anjos!
ResponderExcluirLembra mesmo, Van! Esses termos nada poéticos que ele usa, hehe
ResponderExcluir"Vísceras imensas, tripas sentimentais
ResponderExcluire um estômago cheio de poesia..." Forte, isso!