segunda-feira, 28 de junho de 2010

Necrológio dos desiludidos do amor

Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia...

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.

Carlos Drummond de Andrade

6 comentários:

  1. Nel, eu juro pra vc q eu tava com esse poema no CTRL+C pra postar aqui no blog!!!! Quando entro, eis o poema!!! *___*

    Que lindaaaa sintonia!!!!!

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  2. Hoje eu tava conversando com a Adriana sobre "coisas do coração", hehe, e ela me falou desse poema! Eu não conhecia, mas quando cheguei em casa e li, tive que colocar imediatamente no blog!
    E não é a primeira vez que acontece essa sintonia, né Lu? :)

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  3. Também não conhecia esse, mas achei que lembrou muitooo Augusto dos Anjos!

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  4. Lembra mesmo, Van! Esses termos nada poéticos que ele usa, hehe

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  5. "Vísceras imensas, tripas sentimentais
    e um estômago cheio de poesia..." Forte, isso!

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