sexta-feira, 30 de abril de 2010

Meu existir é vítima de uma fatalidade




"Eu quero mostrar a mim mesma o mais sujo e mais baixo de mim — e aí eu só então me perdoar. Quero que me perdoem eu ser tão cheia de sensualidade que é um grito animal dentro de mim, um gosto de voz aguda de lobo desejando a presa, eu! eu que aspiro à grande desordem dos desejos vis e as trevas que me possuem no orgasmo apocalíptico de meu existir. Meu existir é vítima de uma fatalidade. Isto é: eu sou, oh coitada de mim humana e fraca e carente e pedinte e esmoler. Quero o teu sorriso, quero o teu afago de veludo, quero a luta corpo a corpo, tão íntimos os dois, tão crianças ingênuas e perdidas.Eu clamo pela absolvição! Oh Deus poderoso, me perdoe a minha vida errada e de péssimos hábitos de sentir, me perdoe em existir em gozo tão luxuriante e sensual da absorção dos miasmas do corpo a corpo. Quero abismo para ti e receber-te como uma rainha de Sabá."

Trechos de Um sopro de vida. Clarice Lispector.

4 comentários:

  1. Nossa, sem palavras pra falar de Clarice...
    E esse trecho é simplesmente maravilhoso. Mexeu comigo.

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  2. Gente, isso é simplesmente uma das coisas mais lindas que eu ja li na vida. To impressionadissima aqui...

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