terça-feira, 27 de abril de 2010

Era Ana

"Era Ana, era Ana, Pedro, era Ana a minha fome" explodi de repente num momento alto, expelindo num só jato violento meu carnegão maduro e pestilento, "era Ana a minha enfermidade, ela a minha loucura, ela o meu respiro, a minha lâmina, meu arrepio, meu sopro, o assédio impertinente dos meus testículos" gritei de boca escancarada, expondo a textura da minha língua exuberante, indiferente ao guardião escondido entre os meus dentes, espargindo coágulos de sangue, liberando a palavra de nojo trancada sempre em silêncio, "era eu o irmão acometido, eu, o irmão exasperado, eu, o irmão de cheiro virulento, eu, que tinha na pele a gosma de tantas lesmas, a baba derramada do demo, e ácaros nos meus poros, e confusas formigas nas minhas axilas, e profusas drosófilas festejando meu corpo imundo; (...)"

Trecho de Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar.

4 comentários:

  1. Eu adoro essa parte!!! É a mais 'convulsionada' de todas! a gente fica aflita ao ler...

    como anda a leitura de vocês?
    eu estou esperando a Mel me reenprestar o livro pra eu reler!!! hahah

    Beijos!

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  2. estou devorando o livro, maravilhoso!! li essa parte sem nem parar para respirar! bom demais!

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  3. Ai gente, ainda nem comecei! Não pude comprar o livro, então acabei não conseguindo ele em lugar nenhum por enquanto...mas estou aflita para lê-lo!

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  4. Lu, te entrego o livro esse fim de semana! Tava enrolando com ele pq tem pelo menos mais uns cinco trechos que eu selecionei pra postar aqui até o dia do nosso encontro, haha!
    Essa é a única parte do filme que não é fiel ao livro, porque lá o André fala calmo, tranquilo, pensativo, sendo que ele deveria estar berrando!

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