quarta-feira, 28 de abril de 2010

Entre um blues amargo e um poema de vanguarda...


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...Mas só muito mais tarde, como um estranho flash-back premonitório, no meio duma noite de possessões incompreensíveis, procurando sem achar uma peça de Charlie Parker pela casa repleta de feitiços ineficientes, recomporia passo a passo aquela véspera de São João em que tinha sido permitido tê-lo inteiramente entre um blues amargo e um poema de vanguarda. Ou um doce blues iluminado e um soneto antigo. De qualquer forma, poderia tê-lo amado muito. E amar muito, quando é permitido, deveria modificar uma vida – reconheceu, compenetrado. Como uma ideologia, como uma geografia: palmilhar cada vez mais fundo todos os milímetros de outro corpo, e no território conquistado hastear uma bandeira. Como quando, olhando para baixo, a deusa se compadece e verte uma fugidia gota do néctar de sua ânfora sobre nossas cabeças. Mesmo que depois venha o tempo do sal, não do mel..."

Caio Fernando Abreu

2 comentários:

  1. gente, esse blog é uma fonte de prazer e de isnpiração permanente!fico mais feliz cada vez que entro aqui!

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  2. Gostei muito desse trecho! Preciso ler Caio Fernando Abreu, tenho muita vontade de conhecer sua obra melhor desde que li alguns de seus contos em Literatura Contemporânea (que fiz com Dani e Luzia).
    "...palmilhar cada vez mais fundo todos os milímetros de outro corpo, e no território conquistado hastear uma bandeira."

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