quinta-feira, 15 de abril de 2010

O sétimo filho

"Eram esses os nossos lugares à mesa na hora das refeições, ou na hora dos sermões: o pai à cabeceira; à direita por ordem de idade, vinha o primeiro o Pedro, seguido de Rosa, Zuleika, e Huda; à sua esquerda, vinha mãe, em seguida eu, Ana, e Lula, o caçula." (L.A.)


Cena do filme "Lavoura Arcaica", direção de Luiz Fernando Carvalho e fotografia de Walter Carvalho.

"[sermão]O mundo das paixões é um mundo do desequilíbrio, é contra ele que devemos esticar o arame das nossas cercas, e com as farpas de tantas fiadas tecer um crivo estreito, e sobre este crivo emaranhar uma sebe viva, cerrada e pujante, que divida e proteja a luz calma e clara da nossa casa, que cubra e esconda dos nossos olhos as trevas que ardem do outro lado." (L.A.)


***


João Nassar e Chafika Cassis mudaram-se do sul do Líbano para o Brasil em 1920. Aqui, mais especificamente no interior de São Paulo, tornaram-se comerciantes e constituíram sua família. O sétimo dos dez filhos do casal é (ninguém mais, ninguém menos que) Raduan Nassar, autor da obra do mês do nosso Clube do Livro, Lavoura Arcaica.
Não costumo, em minhas análises, dar tanta ênfase à história de vida do autor, talvez pela tendência, ou pelo vício, da dialética construtivista, ou quem sabe por acreditar na independência da obra artístico-literária. Enfim, me explico por mudar essa prática neste caso.
Não revelarei os mistérios (sórdidos, sim, sórdidos!) de Lavoura Arcaica e de nosso 'herói' André, mas me atrevo a sugerir uma relação entre a vida do sétimo de João e a do quinto de Ióhana, Raduan e André, respectivamente.
Ambos foram criados sob os sermões tradicionais dos pais, sob o julgo da cultura árabe-libanesa. Posso falar com mais propriedade de André, de quem me aproximo e com quem me surpreendo a cada releitura... (é incrível o sentimento de perda, o vazio, o desconsolo! como se morresse alguém da família ao final de um livro que nos consome dessa forma)

Bradou Ióhana, o pai:

"Cale-se! Não vem desta fonte a nossa água, não vem destas trevas a nossa luz, não é a tua palavra soberba que vai demolir agora o que levou milênios para se construir; ninguém em nossa casa há de falar com presumida profundidade, mudando o lugar das palavras, embargando as ideias." (L.A.)

Raduan, na infância, sofreu com as crises epilépticas, com o preconceito e com o constrangimento a cada convulsão. Era obrigado pelos pais a frequentar a Igreja Católica e conservou-se beato até a adolescência, quando iniciou os estudos nas Faculdades de Filosofia, Literatura e Direito, na USP. Qual a relação disso com a vida de André? Descubram.

A meu ver, André foi desprivilegiado por não ter acesso a estudos como Raduan... mesmo assim possui uma mente inquieta, atormentada por ideias radicais diante da vida familiar que leva, além da insana e incontrolável paixão por Ana.

A biografia completa do autor vocês encontram aqui.

Obras do autor editadas em livros:

Lavoura arcaica (1975),

Um copo de cólera (novela de 1978) e

Menina a caminho (conto de 1994).


6 comentários:

  1. como é bacana quando um livro traz tantos sentimentos e pensamentos pra vida da gente...Nossos professores iam ficar orgulhosos desse blog!

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  2. Muito bom, Lu! Pelas passagens que você colocou, parece ser mesmo um livro bem profundo e intenso. Quero começar logo a ler! Esse segundo encontro do nosso clube, eu não perco por nadaaa!

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  3. Lu, não sabia dessa semalhança do Raduan com o André! To impressionada! Será que a parte sórdida do André, como vc disse, também se aplica ao autor?
    Esse é o melhor livro que já li (e o que mais vezes li) e que a cada leitura vai me surpreender e encantar mais ainda.
    Lu, to com ciúmes, você roubou meu livro favorito! hahahaha

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  4. Gente, eu tô louca pra começar a ler... pelo visto, vou ter que comprar um exemplar dessa aí, né!
    Tô tão orgulhosa do nosso blog!

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  5. Comecem a ler logooo!!! E mergulhem no Lavoura Arcaica como eu e Mel!!!
    Mel, eu vejo como um presente que vc me deu... me apresentar Lavoura Arcaica! Obrigada!!! Compartilhamos da mesma paixão!!! ^^
    Ontem 'reassisti' o filme!!! MTO MTO bom!!! a maioria dos trechos que eu coloquei aqui são citados integralmente! MARAVILHOSO!

    Ahh! Um detalhe... nos estudos sobre L.A. achei o nome Iohana escrito com I, já no filme, aparece com Y na legenda...
    Outra coisa, assistam o filme com legendas! Vale mais a pena! Eu acho, pelo menos ;)

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  6. De nada, Lu, essas coisas precisam ser compartilhadas mesmo! :)

    No livro tá escrito Iohána, com I e com um acento!

    Gurias, não tem motivo pra não ler, se vcs procurarem na internet conseguem achar o livro todo pra baixar! Vale muito a pena! (Eu e lu fazendo o marketing do livro aqui, hahaha)

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