segunda-feira, 12 de abril de 2010

"É requinte de saciados testar a virtude da paciência com a fome de terceiros..."

"eu tinha de gritar em furor que a minha loucura era mais sábia que a sabedoria do pai, que a minha enfermidade me era mais conforme que a saúde da família, que os meus remédios não foram jamais inscritos nos compêndios, mas que existia uma outra medicina (a minha!), e que fora de mim eu não reconhecia qualquer ciência, e que era tudo só uma questão de perspectiva, e o que valia era o meu e só o meu ponto de vista, e que era um requinte de saciados testar a virtude da paciência com a fome de terceiros, e dizer tudo isso num acesso verbal, espasmódico, obsessivo, virando a mesa dos sermões num revertério, destruindo travas, ferrolhos e amarras, tirando não obstante o nível, atento ao prumo, erguendo um outro equilíbrio"



"Na modorra das tardes vadias na fazenda, era num sítio lá do bosque que eu escapava aos olhos apreensivos da família; amainava a febre dos meus pés na terra úmida, cobria meu corpo de folhas e, deitado à sombra, eu dormia na postura quieta de uma planta enferma vergada ao peso de um botão vermelho"


***


Saindo dos ares franceses, aristocráticos e requintados de Madame Bovary, e para ir entrando no clima do próximo mês, que terá como ápice o encontro dia dia 14/05, trago trechos de Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, nossa próxima inspiração!


2 comentários:

  1. Trechos muito bem escolhidos, Lu! Ah, e eu empresto o livro pra quem quiser!

    P.S.: eu aaacho que a nossa primeira anfitriã devia fazer um post especial do encontro, einh!

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