segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A descoberta

Lembro com muito gosto o modo como ela se referia a ele. Pelo menos ela o fez uma vez e isso ficou marcado muito fundo, dizendo: Caetano, venha ver o preto que você gosta. Isso de dizer "o preto", sorrindo ternamente como ela o fazia, o fez, tinha, teve, tem um sabor esquisito, que intensificava o encanto da arte e da personalidade do moço no vídeo. Era como se se somasse àquilo que eu via e ouvia uma outra graça, ou como se a confirmação da realidade daquela pessoa, dando-se assim na forma de uma bênção, adensasse sua beleza. Eu sentia alegria por Gil existir, por ele ser preto, por ele ser ele, e por minha mãe saudar tudo isso de forma tão direta e tão transcendente. Era evidentemente um grande acontecimento a aparição dessa pessoa, e minha mãe festejava comigo a descoberta.
Trecho do livro Verdade Tropical, de Caetano Veloso.

3 comentários:

  1. Eu nunca li o livro, mas o Caetano lê esse trechinho no disco Prenda Minha (muito bom por sinal), antes de cantar algumas músicas do Gil. Acho lindo!

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  2. amei de paixão!!esse livro é PERFEITO!A vida do Caetano é sensacional.

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  3. Nossa, amei! Alguém me empresta o livro?

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