segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Gratidão

Elizabeth pensou mais em Pemberley naquela noite do que na precedente. E, embora as horas lhe parecessem difíceis de passar, não foram suficientes para que chegasse a uma conclusão acerca dos seus sentimentos. E ficou duas horas acordada, tentando ler no próprio coração. Certamente não o odiava. Não, o ódio há muito se dissipara e há muito também que se envergonhava de ter antipatizado com ele. O respeito que as suas valiosas qualidades lhe inspiravam, embora a princípio admitido com relutância, já há longo tempo cessara de ser repugnante para os seus sentimentos. Agora se transformava num sentimento mais cordial, graças aos testemunhos tão altamente a seu favor, e à impressão favorável que Darcy lhe produzira na véspera. Mas, acima de tudo, acima do respeito e da estima, encontrava em si mesma um motivo de boa vontade que seria impossível desprezar: era a gratidão. Gratidão não somente porque ele a amara, mas porque ainda a amava bastante para esquecer toda a acrimônia e petulância com que ela o rejeitara e todas as acusações injustas com que acompanhara essa rejeição. Estivera persuadida de que Darcy a evitaria como a maior inimiga. E, no entanto, durante aquele encontro acidental mostrara-se ansioso por restabelecer as relações, sem qualquer exibição indelicada de sentimentos ou qualquer excentricidade de maneiras, no seu modo de tratá-la a sós. Procurava também a boa opinião dos amigos de Elizabeth e insistira para apresentá-la à irmã. Tal mudança num homem tão orgulhoso produzia não somente espanto, mas gratidão. Pois só podia ser atribuída ao amor, e um amor ardente. E a impressão que sobre ela esse amor produzia não era de modo algum desagradável, embora não pudesse ser exatamente definível. Ela o respeitava e estimava; era-lhe grata, sentia um interesse real pelo seu bem-estar. E queria apenas saber até que ponto ela desejava que aquele bem-estar dependesse dela, e, para a felicidade de ambos, até que ponto deveria empregar o poder que imaginava ainda possuir de fazer com que ele renovasse as atenções.

Orgulho e preconceito, Jane Austen.

3 comentários:

  1. Um dos casais mais lindoos da literatura! Que história de amor!

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  2. O Darcy é o máximo, resolveu tudo, arrumou a vida de toda a família da Lizzy!!

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