segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Encurtar

Uma barbatana do espartilho de Nívea quebrou-se, cravando-se-lhe uma ponta entre as costelas. Sentia-se sufocar dentro do vestido de veludo azul, a gola de renda demasiado alta, as mangas muito estreitas, a cintura tão apertada, que, quando tirava o sinto, passava uma boa meia hora sentindo convulsões na barriga até as tripas se acomodarem em sua posição normal. Muitas vezes, ela e as amigas sufragistas haviam discutido o assunto, chegando à conclusão de que, enquanto as mulheres não encurtassem as saias e os cabelos e não despissem as anáguas, pouco importava que pudessem estudar medicina ou tivessem direito a voto, porque de fato não se animariam a fazê-lo, embora ela mesma não mostrasse coragem para ser uma das primeiras a abandonar a moda.

Isabel Allende, A casa dos espíritos.

3 comentários:

  1. É uma leitura muito rica, essa da Allende, mostra bem a representação da mulher... não era mesmo fácil...

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  2. "... enquanto as mulheres não encurtassem as saias e os cabelos e não despissem as anáguas, pouco importava que pudessem estudar medicina ou tivessem direito a voto, porque de fato não se animariam a fazê-lo, embora ela mesma não mostrasse coragem para ser uma das primeiras a abandonar a moda." Quanto mais eu leio o livro mais eu fico admirada com a Isabel Allende, com o jeito que ela denuncia, narra, e vive a conquista do espaço feminino nas sociedades...

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