quarta-feira, 12 de maio de 2010

O irmão acometido


“como último recurso, querida Ana, te chamo ainda à simplicidade, te incito agora a responder só por reflexo e não por reflexão, te exorto a reconhecer comigo o fio atávico desta paixão: se o pai, no seu gesto austero, quis fazer da casa um templo, a mãe, transbordando no seu afeto, só conseguiu fazer dela uma casa de perdição
(...)
“tenho sede, Ana, quero beber” eu disse já coberto de queimaduras, eu era inteiro um lastro de carne viva: “não tenho culpa desta chaga, deste cancro, desta ferida, não tenho culpa deste espinho, não tenho culpa desta intumescência, deste inchaço, desta purulência, não tenho culpa deste osso túrgido, e nem da gosma que vaza pelos meus poros, e nem deste visgo recôndito e maldito, não tenho culpa do meu delírio: uma conta do teu rosário para a minha paixão, duas contas para os meus testículos, todas as contas deste cordão para os meus olhos, dez terços bem rezados para o irmão acometido!”

Lavoura Arcaica, trechos do capítulo 20.

6 comentários:

  1. LUUUUUUUU, que bom que vc colocou esse trecho!
    "...a mãe, transbordando no seu afeto, só conseguiu fazer dela uma casa de perdição"
    "...dez terços bem rezados para o irmão acometido!"
    Como eu amo esse livro!

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  2. To bem nesse capítulo! Ele é bem longo! Quero acabar logo e ver o filme! To adorando!

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  3. Eu vou começar nesse capítulo hoje! Muito forte, por sinal!

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  4. pirei com esse livro! ontem mesmo liguei pra Lu pra falar: que livro é esse?? hahaha bom demais!

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  5. Caraca, Gabi! Tenho que concordar com você. Acabei de acabar e esse livro é, realmente, de pirar o cabeção! Nossa! To estarrecida até agora. Já reli as últimas páginas umas 3 vezes. hauhauhaa

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  6. Vaneeessa,depois que vc ligou pra Lu hoje eu e ela ficamos imaginando como vc reagiria ao final... é de ficar em estado de choque mesmo!

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