quinta-feira, 21 de julho de 2011

Os deslimites da palavra





Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença
delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,
esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
-Gostar de fazer defeitos na frase e muito saudável,
o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da vida
um certo gosto por nadas. . .
E se riu.
Você não é de bugre? - ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios , não anda em
estradas -
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas
e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
agramática.





Trecho de poema de Manoel de Barros, Os deslimites da palavra.

3 comentários:

  1. Que lindeza esse texto!!
    "Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas
    e os ariticuns maduros.
    Há que apenas saber errar bem o seu idioma."

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  2. Também adorei, muito interessante! "Errar bem o idioma" :)

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