sábado, 1 de janeiro de 2011

Soneto XCVIII


Soneto XCVIII

Longe estive de vós na primavera, enquanto,
Com os adornos da Flora, abril se embelezava
E alma de mocidade em tudo influia tanto,
Que o pesado Saturno, a rir, com ele dançava.

Mas nem da passarada o canto, nem das flores
A fragrância ou o matiz variado me faziam
Rimar nada atinente a estivos esplendores,
Ou colhê-las no seio ufano em que viviam;

Nem chegava a admirar dos lírios a brancura,
Nem louvava, tampuco, o vermelho das rosas;
Nas flores via, só, vossa grácil figura,

Modelo de que vinha o serem tão formosas.
Posto me fosse tudo, em vossa ausência, inverno,
Tinha, nela vos vendo, um consolo superno.


William Shakespeare

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