quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Nascente

A lua não vai alta, mas já tem o aspecto com que mais estimamos olhá-la, um disco luminoso inspirador de versos fáceis e sentimentos facílimos, peneira de seda que vai espoando uma alva farinha sobre a paisagem rendida. Dizemos então, Que lindo luar, e fazemos por esquecer o arrepio de medo que sentimos quando o astro aparece enorme, vermelho, ameaçador, sobre a curva da terra. Após tantos e tantos milénios, a lua nascente continua ainda hoje a surgir como uma ameaça, um sinal de fim, o que nos vale é durar a ansiedade poucos minutos, subiu o astro, tornou-se pequeno e branco, podemos respirar descansados. [...] São momentos em que o mundo sai dos eixos, percebemos que nada está seguro, e se pudéssemos dar voz plena ao que sentimos diríamos, com expressiva ausência de retórica, Foi por um triz.

Trecho de A jangada de pedra, de José Saramago.

4 comentários:

  1. Falando em lua, como ela estava linda ontem! Amarela, enorme!

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  2. Foi por conta da lua de ontem que eu postei esse trecho, Dani! Minhas noites são muito mais felizes quando tem uma lua cheia dessas no céu!

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  3. Li esse post várias vezes já! só esqueci de comentar!! preciso dizer o que sinto vendo a lua??? nem se eu alcançasse esse sentido, seria desnecessário! é só notar o BRILHO* dos olhos!

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