segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Antes do começo

Ruídos confusos, claridade incerta.
Outro dia começa.
Um quarto em penumbra
e dois corpos estendidos.
Em minha fronte me perco
numa planície vazia.
E as horas afiam suas navalhas.
Mas a meu lado tu respiras;
íntima e longínqua
fluis e não te moves.
Inacessível se te penso,
com os olhos te apalpo,
te vejo com as mãos.
Os sonhos nos separam
e o sangue nos reúne:
Somos um rio que pulsa.
Sob tuas pálpebras amadurece
a semente do sol.
O mundo
No entanto, não é real,
o tempo duvida:
Só uma coisa é certa,
o calor da tua pele.
Em tua respiração escuto
as marés do ser,
a sílaba esquecida do Começo.

Octavio Paz

6 comentários:

  1. Descobri esse autor por acaso, vendo um dvd da Marisa Monte. E seus poemas são MARAVILHOSOS! Podem aguardar mais aparições dele por aqui :)

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  2. Adoro uma descoberta e uma novidade nesse blog!!

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  3. Nossa, Mel! Ma-ra-vi-lho-so! Por favor, poste mais dele mesmo! Lindo esse poema! Amei!

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  4. Nossa, Mel! É realmente um achado!!! Adorei!!

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  5. Adorei as rimas:
    "com os olhos te apalpo,
    te vejo com as mãos."
    Tô esperando mais poemas lindos como esse!

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  6. Foi um dos poemas mais lindos que já li... é bem no estilo que eu gosto! muito bomm!!

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