quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A mesma simpatia com que tratava todo mundo.



Sentia o desejo insatisfeito fervendo-lhe nas entranhas, um fogo impossível de apagar, uma sede de Clara que nunca, nem mesmo nas noites mais fogosas e prolongadas, conseguia saciar. Dormia extenuado, com o coração a ponto de explodir dentro do peito, mas até em seus sonhos tinha consciência de que a mulher que repousava a seu lado não estava de fato ali, mas numa dimensão desconhecida que ele jamais conseguiria alcançar. Às vezes perdia a paciência e sacudia Clara, furioso, gritando-lhe os piores insultos, mas terminava chorando em seu colo e pedindo perdão por sua brutalidade. Clara compreendia, mas não podia aliviá-lo. O amor desmedido de Esteban Trueba por Clara foi sem dúvida o sentimento mais poderoso da sua vida, superando até a raiva e o orgulho, e, meio século depois, continuaria a invocá-lo com o mesmo estremecimento e a mesma urgência. Em seu leito de ancião ele a chamaria até o fim de seus dias.


Isabel Allende, A Casa dos Espíritos.

2 comentários:

  1. É incrível esse amor do Esteban... Um amor violento, desmedido e tão sofrido!!

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  2. Maravilhoso esse trecho... como diz a Gabi, dá vontade de fazer todo mundo ler!

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