segunda-feira, 16 de maio de 2011

O saber secreto



"Meu pai acreditava que os livros, encadernando a escrita e o saber, traziam prestígio; tambem os amava, porque também escrevia, sobretudo quadras, rimas cruzadas. Eu tremia diante dele porque, sei-o agora, seu destino, com sua voz, estava fechado. O que não impedia que, com os desvelos de minha mãe e Maria Amélia como compensação, ele tivesse sido o meu maior educador. Educava-me na solidão, por interpostas presenças, com sobressalto e desejo. Desejo de brincar, que depois transferi para brincar na leitura dos livros e suas imagens, desejo de amá-lo em quem o substituía no saber. Saber secreto que eu devia acordar, povoar, para o qual eu deveria encontrar equivalente em todos os instantes ao longo do meu dia."

Um arco singular, Livro de Horas II, Maria Gabriela Llansol.

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