segunda-feira, 30 de maio de 2011

O medo



Congresso internacional do medo



Provisoriamente não cantaremos o amor,



que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.



Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,



não cantaremos o ódio porque esse não existe,



existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,



o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,



o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,



cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,



cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,



depois morremos de medo



e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.


Sentimento do mundo, Carlos Drummond de Andrade

2 comentários:

  1. Tem sido riquissima a leitura dessas poesias!Tenho um pouco de dificuldade em ler poesia, mas tem sido um ótimo exercicio para me fazer refletir e buscar o "meu sentimento" no Sentimento do Mundo. Estou amando!

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  2. Eu já tinha postado esse poema aqui antes de escolher o livro, não só esse como outros que também são do Sentimento do mundo! É um livro que sempre gostei muito e que releio com frequência :)
    http://literatasclube.blogspot.com/2011/03/flores-amarelas-e-medrosas.html
    Fico muuito contente que vc esteja gostando, Gabi! Muito bom saber que a escolha do livro está ajudando a despertar o interesse de vocês para a poesia!

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