terça-feira, 12 de abril de 2011

Sopro


29 de julho de 1977, sexta

Figura sublime, intuitiva, nós falamos sobre a vida. Na sua entrada e na sua saída. Na sua passagem e na sua permanência. Teus lábios murmuram trevas, teus lábios indiciam luz. Neles se encontram o alimento e o sopro, a palavra e o beijo.
O branco inicial da profecia, da simplicidade, da ignorância e da crueldade. O branco do primeiro prazer, do riso sem consequências, da sabedoria que se desconhece, da divisão que ainda não veio. O azul claro da tua chama.
Esta a Vida da tua boca, na qual se acende o bruxulear de uma ténue luz. Boca côncava, de calor, de ar e de sopro. A tua respiração ofegante apaga-a.
Respira com ritmo, figura sublime, inspira a luz até a fortalecer na sua fragilidade inicial. Em Margarida, o saber disponível criara a vontade de poder.

Criara-se um sólido campo de batalha. Tu és mais sábia, mas a tua ignorância aumentou; tu és mais cruel, mas a tua compaixão aumentou, tu és mais simples, mas a tua arte aumentou.
E Cisca [a gata] era a força do que muda contra a vontade de fixação.
Se eu escolher, fico num vale frio e de brisa estranhos.
A acidez do Mundo.
As noites a fio.
Em todo esse périplo, o saber é cada vez mais Poder. Se eu escolher um vale de frio e de brisa estranhos ___________


Trecho de Um arco singular, Livro de horas II, de Maria Gabriela Llansol.

3 comentários:

  1. Adorei!!! Acho que é meu trecho preferido até agora!!!
    Estou tão ansiosa para o clube!!!

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  2. "O branco inicial da profecia, da simplicidade, da ignorância e da crueldade. O branco do primeiro prazer, do riso sem consequências, da sabedoria que se desconhece, da divisão que ainda não veio."
    Apaixonei com esse trecho!

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