quarta-feira, 23 de março de 2011

Um pouco de silêncio


"Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do barulho, gostar de sossego é uma excentricidade. Sob pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigações. Muitas desnecessárias, outras impossíveis, algumas que não combinam conosco nem nos interessam.

Acuados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo- ou em trilhas determinadas- feito hâmsteres que se alimentam de sua própria agitação.

O silêncio nos assusta por retumbar no vazio dentro de nós. Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incômodas e mal resolvidas, ou se enxerga outro ângulo de nós mesmos. Nos damos conta de que não somos apenas figurinhas atarantadas correndo entre casa, trabalho e bar, praia ou campo.

Silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desconserto nosso. Com medo de ver quem - ou o que - somos, adia-se o defrontamento com nossa alma sem máscaras.

Mas, se a gente aprende a gostar um pouco de sossego, descobre - em si e no outro - regiões nem imaginadas, questões fascinantes e não necessariamente ruins.

Então, por favor, me dêem isso: um pouco de silêncio bom para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos."


Pensar é transgredir, Lya Luft.

5 comentários:

  1. Seguindo a temática do post da Van : )

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  2. Adorei, Gabi! Às vezes, tudo o que eu quero é só um pouco de silêncio, de sossego!

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  3. Adorei! O silêncio não só nos faz pensar como também pode causar mudanças por causa dessas reflexões. Adorei o texto. Fiquei com vontade de ler esse livro. :)

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  4. Um tempo atrás eu me incomodava muito com o silêncio, simplesmente não conseguia! Agora isso se tornou uma NECESSIDADE, não consigo ficar bem em lugar barulhento!

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  5. "Silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desconserto nosso. Com medo de ver quem - ou o que - somos, adia-se o defrontamento com nossa alma sem máscaras."

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