quarta-feira, 8 de maio de 2013

Cada aroma tinha um valor próprio...


“Para agradá-lo, um dia, após o banho vespertino, Tereza tomou do vidro e se encharcou com a água-de-colônia do amásio; assim veio encontrá-lo ao pé do leito. Emiliano levantara-se para a acolher e ao sentir o perfume espalhado sobre ela, riu o riso largo, capitoso:
— Que fizeste, Tereza? Esse perfume é de homem.
— Vi o senhor usar com tanto gosto, usei também, pensando. . .
Esguia menina, corpo em formação, ancas insolentes, o doutor a volteou e a reteve de costas contra si. Da ponta dos. Cabelos aos dedos dos pés, da rosa do xibiu ao goivo do subilatório, o corpo inteiro de Tereza foi posse do doutor, chão de sua lavra.
Com o tempo, soube Tereza dos perfumes e da maneira de usá-los. Na hora da barba ela mesma passava a água-de-colônia no rosto, no bigode, nos pelos brancos do peito cabeludo do doutor. Gostava de aspirar o perfume seco, agreste, de homem. Vez por outra, ele, tomando o frasco da mão da amiga, punha-lhe uma gota no colo e a volteava, sentindo-lhe a palpitação das ancas. Cada gesto, cada palavra, cada olhar, cada aroma tinha um valor próprio.”

TEREZA BATISTA CANSADA DE GUERRA
JORGE AMADO

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