terça-feira, 15 de novembro de 2011

Una Furtiva Lacrima



- Sabe o que mais eu aprendi? Eles disseram que se devia ter alegria de viver. Então, eu tenho. Eu também ouvi uma música linda, eu até chorei.
- Era samba?
- Acho que era. E cantada por um homem chamado Caruso que se diz que já morreu. A voz era tão macia que até doía ouvir. A música chamava-se "Una Furtiva Lacrima". [...]
"Una Furtiva Lacrima" fora a única coisa belíssima na vida de Macabéa. Enxugando as próprias lágrimas, tentou cantar o que ouvira. Mas a sua voz era tão crua e tão desafinada como ela mesma era. Quando ouviu começara a chorar. (...) Chorava, assoava o nariz , sem saber mais por que chorava. Não chorava por causa da vida que levava porque, não tendo conhecido outros modos de viver, aceitara que com ela era "assim". Mas também creio que chorava porque, através da música, adivinhava, talvez, que havia outros modos de sentir, havia existências mais delicadas e até com um certo luxo de alma.

Trecho de A hora da estrela, Clarice Lispector.

*Para ouvir Una Furtiva Lacrima na voz de Caruso, clique aqui.

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