segunda-feira, 13 de junho de 2011

O poema e seu leitor

Nos poemas de Carlos Drummond, os grandes acontecimentos públicos do século são expressos através duma atormentada, galhofeira ou benévola auto-análise. A esta se acopla uma reflexão poética de ordem pessoal e transferível sobre a vivência do cidadão brasileiro e do intelectual cosmopolita em tempos que podem ser trágicos, dramáticos, nostálgicos, pessimistas ou alegres. Experiência privada e fatos públicos nacionais e estrangeiros, em correlação e sistema de troca entranháveis, compõem a textura das sucessivas coletâneas de poemas publicadas entre 1930 e 1996.
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A proposta de escrever poemas pessoais e originais, e contraditoriamente passíveis de serem transferidos palavra por palavra ao leitor, está tematizada de maneira variada na arte poética de Carlos Drummond. Através do trabalho de arte, o poeta traz o leitor para os dois dedos de prosa na sala de visitas do poema, ou para o bate-papo na esquina do livro. O poema mantém diálogo fecundo com o seu acompanhante, num diapasão de familiaridade que não deve ser confundido com a neutralidade consensual da conversa mole pra boi dormir, tipo cada um no seu canto. O diálogo do poema com seu leitor é descontraído e é tenso, é zombeteiro e é enérgico, é irônico e é sentimental, é confidencial sem ser introvertido.

Silviano Santiago

2 comentários:

  1. "O diálogo do poema com seu leitor é descontraído e é tenso, é zombeteiro e é enérgico, é irônico e é sentimental, é confidencial sem ser introvertido." Maravilhoso!!!

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