quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Mais que um penteado



"Ouvimos passos no corredor; era Dona Fortunata. Capitu compôs-se depressa, tão depressa que, quando a mãe apontou à porta, ela abanava a cabeça e ria. Nenhum laivo amarelo, nenhuma contração de acanhamento, um riso espontâneo e claro, que ela explicou por estas palavras alegres:

- Mamãe, olhe como este senhor cabeleireiro me penteou; pediu-me para acabar o penteado, e fez isto. Veja que tranças!

-Que tem? - acudiu a mãe, transbordando de benevolência. - Está muito bem, ninguém dirá que é de pessoa que não sabe pentear.

-O quê, mamãe?Isto?-redarguiu Capitu, desfazendo as tranças. - Ora, mamãe!

E, com um enfadamento gracioso e voluntário que às vezes tinha, pegou do pente e alisou os cabelos para renovar o penteado. Dona Fortunata chamou-lhe tonta e disse-me que não fizesse caso, não era nada, maluquices da filha. Olhava com ternura para mim e para ela. Depois, parece-me que desconfiou. Vendo-me calado, enfiado, cosido à parede, achou que talvez houvera entre nós algo mais que penteado, e sorriu por dissimulação..."

Dom Casmurro, Machado de Assis.

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