quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O cacto



Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco Nordeste, carnaubais, caatingas... 
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais. 


Um dia um tufão furibundo abateu-os pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas privou a cidade de
                                                                                   [iluminação e energia:


- Era belo, áspero, intratável. 


 Manuel Bandeira

4 comentários:

  1. Mel, ontem mesmo li um artigo sobre Manuel Bandeira, falando do trabalho dele como tradutor, especialmente em poesia!!Você vai amar, vou te mostrar!

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  2. Ebaa, quero ver! Além de poeta, o Bandeira foi muito bom em mais um monte de coisa! A Ana Laura leu um pedaço desse poema no discurso dela na minha colação de grau. Emocionante!!

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  3. Que lindo! Acho que nunca tinham postado nada do Manuel Bandeira aqui. Lindo poema mesmo!

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