quinta-feira, 31 de março de 2011
Olhos fechados
Básico
Bom presságio
quarta-feira, 30 de março de 2011
flores amarelas e medrosas
Carlos Drummond de Andrade
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
terça-feira, 29 de março de 2011
Você
Desassossego
segunda-feira, 28 de março de 2011
Para Kikinha
sexta-feira, 25 de março de 2011
Quero mais
quinta-feira, 24 de março de 2011
Enfermidades do espírito
Doce
Caio Fernando Abreu
quarta-feira, 23 de março de 2011
Serás o meu amor
Dueto
Chico Buarque
Consta nos astros, nos signos, nos búzios
Eu li num anúncio, eu vi no espelho, tá lá no evangelho, garantem os orixás
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado nos dados oficiais
Serás o meu amor, serás a minha paz
Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar
Mas se o destino insistir em nos separar
Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas
Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos
Se dane o evangelho e todos os orixás
Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz
Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na novela
Está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos mapas, nos lábios, nos lápis
Consta nos Ovnis, no Pravda, na Vodca
Ouça aqui na voz de Chico e Nara Leão e aqui na voz de Chico e Paula Toller.
Perder e ganhar
Um pouco de silêncio
terça-feira, 22 de março de 2011
Deleite
A noite de ontem
Tempo bom
Que a boa brisa lhe soprou
Que vem aí bom tempo
O pescador me confirmou
Que o passarinho lhe cantou
Que vem aí bom tempo
Do duro toda semana
Senão pergunte à Joana
Que não me deixa mentir
Mas, finalmente é domingo
Naturalmente, me vingo
Eu vou me espalhar por aí
No compasso do samba
Eu disfarço o cansaço
Joana debaixo do braço
Carregadinha de amor
Vou que vou
Pela estrada que dá numa praia dourada
Que dá num tal de fazer nada
Como a natureza mandou
Vou
Satisfeito, a alegria batendo no peito
O radinho contando direito
A vitória do meu tricolor
Vou que vou
Lá no alto
O sol quente me leva num salto
Pro lado contrário do asfalto
Pro lado contrário da dor
Um marinheiro me contou
Que a boa brisa lhe soprou
Que vem aí bom tempo
Um pescador me confirmou
Que um passarinho lhe cantou
Que vem aí bom tempo
Ando cansado da lida
Preocupada, corrida, surrada, batida
Dos dias meus
Mas uma vez na vida
Eu vou viver a vida
Que eu pedi a Deus"
Parar pra pensar
segunda-feira, 21 de março de 2011
16 de Maio de 1998
frágil e transparente
Perfeito, nem pensar.
domingo, 20 de março de 2011
inter-humano
"Eis aqui a escrava do texto que me invade, e que nada tem a ver com o texto impresso ou escrito. Entre mim e o outro, repito, não quero que haja aventuras sentimentais. Excluída esta poeira do meu olho, confio absolutamente no que hei-de ver."
sexta-feira, 18 de março de 2011
Loucura
Varandas
quinta-feira, 17 de março de 2011
Palavras mudas
Era um guerreiro, aquele meu amor, como o nome que lhe dera seu pai, Gambo, que quer dizer guerreiro. Ele sussurrava seu nome proibido quando estávamos sozinhos, Gambo, e essa palavra, ressoava em minhas veias. Custou a ele muitas surras responder ao nome que lhe deram aqui e ocultar o seu verdadeiro. Gambo, disse-me, tocando no peito, na primeiva vez que nos amamos. Gambo, Gambo, repetiu, até que me atrevi a dizê-lo. Então, ele falava em sua língua e eu respondia na minha. Levou algum tempo para aprender o créole e me ensinar um pouco do seu idioma, o mesmo que minha mãe não conseguira me ensinar; mas desde o começo não precisamos falar. O amor tem palavras mudas, mais transparentes do que o rio.
Trecho de A ilha sob o mar, de Isabel Allende.
Na lua, na rua, na nasa, em casa
Você vai comigo aonde eu for
Você vai bem, se vem comigo
Serei teu amigo e teu bem
Fica bem, mas fica só comigo
Quando o sol se vai a lua amarela
Fica colada no céu cheio de estrela
Se essa lua fosse minha
Ninguém chegava perto dela
A não ser eu e você
Ah, eu pagava pra ver
Nós dois no cavalo de Ogum
Nós juntos parecendo um
Na lua, na rua, na nasa, em casa
Brasa da boca de um dragão
quarta-feira, 16 de março de 2011
Angico
" 4 de dezembro
Do diário de Sílvia, Érico Verissimo.
Gurias, espero vocês para dividir comigo o amor intenso que tenho por esse livro. Nosso encontro é sabado, dia 19 de março, na minha casa, às 13h. Espero vocês no meu Angico!
Confissões
"18 de fevereiro ( ainda no Angico)
Até que ponto escrevo este diário num desafio ao meu marido, num obscuro desejo de quem um dia ele descubra e leia, e a coisa toda se precipite sem que eu tenha a responsabilidade completa pelo desfecho? Até que ponto este diário é o meu veneno?
Mas eu já nao escrevi que Deus é o motivo principal destas páginas?"
Do diário de Sílvia, Érico Veríssimo.
terça-feira, 15 de março de 2011
Fui ser feliz
Suprema liberdade
Lábios de mel
segunda-feira, 14 de março de 2011
Trouxeste a chave?
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
Um quarto de século
Sutil
sábado, 12 de março de 2011
Vertigem
sexta-feira, 11 de março de 2011
O ninho - que querem - é entre asas e alturas
Floriano
Floriano escreveu a Jango dizendo que virá fazer-nos uma rápida visita em fins deste mês, antes de partir para os Estados Unidos. A ideia de que ele vai encontrar-se com sua americana desperta em mim um leve e tolo ciúme, do qual me envergonho. Afinal de contas, Floriano é um homem livre. Faço o possível para esquecer certas coisas, mas é inútil. Relembro uma tarde do verão passado em que, num dos raros momentos em que a Dinda afroxou sua vigilância sobre nós, Floriano me contou de sua aventura com essa estrangeira. Eu não lhe havia perguntado coisíssima alguma. Falávamos na guerra e nas possibilidades de os Estados Unidos entrarem no conflito... De repente Floriano desatou a língua e, com essa coragem meio cega que às vezes os tímidos têm, me narrou a história com a americana em todos os seus pormenores, inclusive os de alcova. Eu gostaria de ter visto minha cara no espelho naquele momento. Acho que corei. A coisa me tomou de surpresa. Não me foi fácil encarar F. enquanto ele falava. Ao cabo de alguns minutos, me refiz do choque e acho que me portei como uma mulher adulta e evoluída. É quase inacreditável que uma pessoa de tanta sensibilidade e malícia como Floriano tenha caído na armadilha que lhe preparou a vaidade masculina. Fez questão de me dizer - e mais tarde repetir - que havia satisfeito plenamente a amante como homem. Talvez estivesse inconscientemente procurando me despeitar com a narrativa de suas proezas sexuais. Era como se me dissesse: 'estás vendo agora o que perdeste por teres casado com o Jango e não comigo?'. Depois que nos separamos, pensei melhor no assunto e compreendi que no fundo daquela confissão o que havia mesmo era um homem pouco seguro de si mesmo e de seus objetivos. E mais uma grande solidão agravada pela certeza de que aquela aventura de praia não tinha nenhuma profundidade. Tive pena dele. Tive pena de mim. Perdoei-o e me perdoei... não sei bem por quê."
quinta-feira, 10 de março de 2011
Ele me responderá...
Não quero piedade, quero amor
quarta-feira, 9 de março de 2011
O mundo é todo encantado
Naturalidade
Clarice Lispector
quarta-feira, 2 de março de 2011
Sem solicitações
Caio Fernando Abreu
Parar, olhar, escutar
E o tal do mundo não se acabou!
Anunciaram e garantiram
Que o mundo ia se acabar!
Por causa disso
Minha gente lá de casa
Começou a rezar...
E até disseram que o sol
Ia nascer antes da madrugada,
Por causa disso nessa noite
Lá no morro
Não se fez batucada...
Acreditei nessa conversa mole,
Pensei que o mundo ia se acabar!
E fui tratando de me despedir,
E sem demora fui tratando
De aproveitar!
Beijei a boca
De quem não devia,
Peguei na mão
De quem não conhecia,
Dancei um samba
Em traje de maiô
E o tal do mundo
Não se acabou!
Chamei um gajo
Com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão!
E festejando o acontecimento
Gastei com ele
Mais de quinhentão!
Agora eu soube
Que o gajo anda
Dizendo coisa
Que não se passou!
Ahhh! vai ter barulho
E vai ter confusão!
Porque o mundo não se acabou...
Composição: Assis Valente
Interpretada por Adriana Calcanhoto, veja e ouça aqui!