26 de Fevereiro de 1977, sábado
Admitamos que estou terrivelmente inquieta. Multiplico as coisas à minha volta para me securizar. Em vão. Tudo é excessivamente frágil e transparente. Alguém partindo de mim ajoelha sobre um véu diáfano colocado num solo sem solo, ou no ar, e espera. Tento ver mais longe, ou seja, num momento posterior, mas figura não se move, como se o tempo tivesse acabado; a figura inclina-se sobre o véu diáfano, toca com a cabeça o que está debaixo dela, o seu corpo repousa com a forma de um anel. Uma serpente aproxima-se, como o duplo desse corpo parado e investe sobre ele, mas apenas atinge o espaço circular vazio. A figura levanta-se, então, e cresce com aspecto de círio, de obelisco, ou chama. Uma voz pronuncia o seu nome, nome agudo que os meus ouvidos não atingem. Ao espaço em que agora habita o nada, a serpente regressa e ouve o nome. O som torna-se grinalda por cima da sua cabeça. Ataca com a língua voraz, mas as flores de Prunus Triloba Plena flutuam,
e recolhem-se
no lugar seguro da próxima Primavera.
Trecho do livro Um Arco Singular, Livro de Horas II, de Maria Gabriela Llansol.
Meeel!!! Que literata exemplar! hahaha
ResponderExcluirEspero que seja um grande mergulho esse livro!! Tenho grandes expectativas!
São muitas reflexões e crises interiores que ela discute de uma maneira única!
Dessas leituras que deixam a gente com o coração na boca!!
ResponderExcluirConcordo, Gabi!
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