quarta-feira, 30 de março de 2011

flores amarelas e medrosas


Congresso Internacional do Medo

Carlos Drummond de Andrade


Provisoriamente não cantaremos o amor,

que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

2 comentários:

  1. Conheci um pouco mais de Drummond no semestre passado e fiquei encantada. Ele tem um olhar muito peculiar sobre o mundo, as poesias dele são unicas.

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