quarta-feira, 2 de março de 2011

Parar, olhar, escutar


" Agenda pode ser tormento e prisão. Mas pode ser liberdade, se a gente inventar brechas: em plena tarde da semana, caminhar na calçada; sentar ao sol na varanda do apartamento; deitar na grama do parque ou jardim, por menor que ele seja, e como criança olhar as nuvens, interpretando suas formas: camelo, coelho, árvore ou anjo.

Ou: quinze minutos para se recostar para trás na cadeira ( pode ser do escritório mesmo) e espiar o céu fora da janela; ir até a sala, esticar-se no sofá com as pernas sobre o braço do próprio, e ouvir música, ver televisão, ler, ler, ler... ou simplesmente não fazer nada.

O ócio é uma possibilidade infinita a ser explorada.

Não falo da inércia, do desânimo, do vazio melancólico. Jamais falarei de ficar de robe velho e pantufas ( vi numa vitrine algumas com cara de cachorro e até orelhas!) pela casa até o meio da tarde.

Falo de viver.

Parar, olha, escutar - dizia um aviso nos trilhos do trem entre minha cidade e Porto Alegre. A gente passava de carro sobre o trilho, e eu imaginava o horror de alguém infringir isso e ser explodido pelo monstro de ferro e fumaça.

A vida há de rolar por cima da gente, reduzindo a poeirinha inútil quem se esquecer de às vezes parar pra pensar... mas sem se desmontar; olhar em torno ou para dentro: paisagens belas, ou áridas ( sempre dá pra plantar um capim) ou quem sabe coloridas ( a alma pode brincar de esconde-esconde entre as folhas).

E escutar: a música do universo, o canto do sabiá ( que tem começado às três da madrugada fria, atarantado neste clima estranho); a risada da criança no andar de cima; enfim, o chamado da vida que nos convoca de mil formas: anda, sai do marasmo, viveeeeeeeeeeee!!

Que nossas agendas ( também as interiores) nos permitam muitas vezes a plenitude do nada sorvido como um gole de champanha, celebrando tudo.

Sem culpa."


Pensar é transgredir, Lya Luft.

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