" 1º de novembro
Floriano escreveu a Jango dizendo que virá fazer-nos uma rápida visita em fins deste mês, antes de partir para os Estados Unidos. A ideia de que ele vai encontrar-se com sua americana desperta em mim um leve e tolo ciúme, do qual me envergonho. Afinal de contas, Floriano é um homem livre. Faço o possível para esquecer certas coisas, mas é inútil. Relembro uma tarde do verão passado em que, num dos raros momentos em que a Dinda afroxou sua vigilância sobre nós, Floriano me contou de sua aventura com essa estrangeira. Eu não lhe havia perguntado coisíssima alguma. Falávamos na guerra e nas possibilidades de os Estados Unidos entrarem no conflito... De repente Floriano desatou a língua e, com essa coragem meio cega que às vezes os tímidos têm, me narrou a história com a americana em todos os seus pormenores, inclusive os de alcova. Eu gostaria de ter visto minha cara no espelho naquele momento. Acho que corei. A coisa me tomou de surpresa. Não me foi fácil encarar F. enquanto ele falava. Ao cabo de alguns minutos, me refiz do choque e acho que me portei como uma mulher adulta e evoluída. É quase inacreditável que uma pessoa de tanta sensibilidade e malícia como Floriano tenha caído na armadilha que lhe preparou a vaidade masculina. Fez questão de me dizer - e mais tarde repetir - que havia satisfeito plenamente a amante como homem. Talvez estivesse inconscientemente procurando me despeitar com a narrativa de suas proezas sexuais. Era como se me dissesse: 'estás vendo agora o que perdeste por teres casado com o Jango e não comigo?'. Depois que nos separamos, pensei melhor no assunto e compreendi que no fundo daquela confissão o que havia mesmo era um homem pouco seguro de si mesmo e de seus objetivos. E mais uma grande solidão agravada pela certeza de que aquela aventura de praia não tinha nenhuma profundidade. Tive pena dele. Tive pena de mim. Perdoei-o e me perdoei... não sei bem por quê."
Floriano escreveu a Jango dizendo que virá fazer-nos uma rápida visita em fins deste mês, antes de partir para os Estados Unidos. A ideia de que ele vai encontrar-se com sua americana desperta em mim um leve e tolo ciúme, do qual me envergonho. Afinal de contas, Floriano é um homem livre. Faço o possível para esquecer certas coisas, mas é inútil. Relembro uma tarde do verão passado em que, num dos raros momentos em que a Dinda afroxou sua vigilância sobre nós, Floriano me contou de sua aventura com essa estrangeira. Eu não lhe havia perguntado coisíssima alguma. Falávamos na guerra e nas possibilidades de os Estados Unidos entrarem no conflito... De repente Floriano desatou a língua e, com essa coragem meio cega que às vezes os tímidos têm, me narrou a história com a americana em todos os seus pormenores, inclusive os de alcova. Eu gostaria de ter visto minha cara no espelho naquele momento. Acho que corei. A coisa me tomou de surpresa. Não me foi fácil encarar F. enquanto ele falava. Ao cabo de alguns minutos, me refiz do choque e acho que me portei como uma mulher adulta e evoluída. É quase inacreditável que uma pessoa de tanta sensibilidade e malícia como Floriano tenha caído na armadilha que lhe preparou a vaidade masculina. Fez questão de me dizer - e mais tarde repetir - que havia satisfeito plenamente a amante como homem. Talvez estivesse inconscientemente procurando me despeitar com a narrativa de suas proezas sexuais. Era como se me dissesse: 'estás vendo agora o que perdeste por teres casado com o Jango e não comigo?'. Depois que nos separamos, pensei melhor no assunto e compreendi que no fundo daquela confissão o que havia mesmo era um homem pouco seguro de si mesmo e de seus objetivos. E mais uma grande solidão agravada pela certeza de que aquela aventura de praia não tinha nenhuma profundidade. Tive pena dele. Tive pena de mim. Perdoei-o e me perdoei... não sei bem por quê."
Do diário de Sílvia, Érico Veríssimo.
Eu estou amando esse Livro! *-*
ResponderExcluirTambém to amando a leitura! Acho que vamos ter muito o que conversar nesse próximo encontro! Achei essa parte sensacional! Imagina ele contando pra ela, que é apaixonadíssima por ele, uma aventura com outra mulher! E claro que foi só pra causar ciúme nela! Hehe!
ResponderExcluirMalvado esse Floriano, hein? Causar ciúmes não é uma coisa que aprecio muito não. Esse livro parece realmente ser bom.
ResponderExcluirMaravilhoso!!! Não consigo separar um trecho pra colocar aqui! haha dá vontade de colocar tudo!
ResponderExcluirPerfeito esse trecho!
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