quinta-feira, 17 de março de 2011

Palavras mudas

Era um guerreiro, aquele meu amor, como o nome que lhe dera seu pai, Gambo, que quer dizer guerreiro. Ele sussurrava seu nome proibido quando estávamos sozinhos, Gambo, e essa palavra, ressoava em minhas veias. Custou a ele muitas surras responder ao nome que lhe deram aqui e ocultar o seu verdadeiro. Gambo, disse-me, tocando no peito, na primeiva vez que nos amamos. Gambo, Gambo, repetiu, até que me atrevi a dizê-lo. Então, ele falava em sua língua e eu respondia na minha. Levou algum tempo para aprender o créole e me ensinar um pouco do seu idioma, o mesmo que minha mãe não conseguira me ensinar; mas desde o começo não precisamos falar. O amor tem palavras mudas, mais transparentes do que o rio.


Trecho de A ilha sob o mar, de Isabel Allende.

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