segunda-feira, 6 de maio de 2013

Manhãs de Estância



“Tereza com o maiô por baixo do vestido, o doutor com uma sunga minúscula sob as calças, atravessavam Estância em direção ao rio. Apesar da hora matinal, já as lavadeiras batiam roupa nas coroas de pedra, mascando fumo de rolo. Tereza e o doutor recebiam a ducha forte da Cachoeira do Ouro, pequena queda d’água. O lugar era deslumbrante: correndo sobre seixos, a sombra de árvores imensas, o rio abria-se mais adiante num grande remanso de água límpida. Para ali se encaminhavam, após a ducha, atravessando entre as peças de roupa postas a enxaguar pelas lavadeiras.
A água, no ponto mais profundo, dava no ombro do doutor. Estendendo os braços, ele mantinha Tereza à tona, ensinando-lhe a nadar. Os redemoinhos, as brincadeiras, o riso solto, os beijos trocados dentro d’água; o doutor num mergulho a sujeitá-la pela cintura, a mão no seio ou por dentro do maio, insolente, estranho peixe escapando-lhe da sunga. Prelúdios de amor, o desejo se cendendo no banho do rio Piauitinga. Na volta, em casa, no banheiro e na cama completavam o alegre começo da manhã. Manhãs de Estância, ai, nunca mais.”

TEREZA BATISTA CANSADA DE GUERRA
JORGE AMADO

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