O consentimento de Sir William e de Lady Lucas foi rapidamente solicitado, e concedido com a maior boa vontade. A situação atual de Mr. Collins o tornava um partido muito desejável para a filha, a quem só podiam deixar uma pequena fortuna, e as probabilidades que tinha Mr. Collins de herdar fortuna eram bastante evidentes. Lady Lucas começou a calcular diretamente, com um interesse que jamais tivera pelo assunto, quantos anos provavelmente viveria ainda Mr. Bennet, e Sir William manifestou a opinião de que, quando Mr. Collins entrasse na propriedade de Longbourn, seria altamente conveniente que ambos, ele e a esposa, se apresentassem em St. James. Em suma, toda a família se sentiu profundamente feliz. [...] Charlotte, pessoalmente, se mostrou bastante discreta. Conseguira o que almejava e tinha tempo para refletir no assunto. Suas reflexões foram em geral satisfatórias. Mr. Collins não era a bem dizer nem sensato nem agradável. A sua companhia era cansativa. E a sua afeição por ela devia ser imaginária. Mas mesmo assim seria seu marido. Sem ter grandes ilusões a respeito dos homens ou do matrimônio, o casamento sempre fora o seu maior desejo; era a única posição tolerável para uma moça bem-educada e de pouca fortuna. E por mais incertas que fossem as perspectivas de felicidade, era ainda a forma mais agradável de ficar ao abrigo da necessidade. Esta proteção, ela agora a obtivera. Tinha vinte e sete anos e jamais fora bela. Sabia portanto que tivera sorte.
Trecho do capítulo XXII de Orgulho e preconceito, de Jane Austen.
Depois de levar o fora da Lizzy, o primo Collins pede a mão da melhor amiga dela, Charlotte Lucas, que aceita por pura conveniência e interesse, já que o casamento era considerado a única via possível para uma mulher ter uma vida tranquila naquela época.
ResponderExcluir"Tinha vinte e sete anos e jamais fora bela. Sabia portanto que tivera sorte." Vocês não acham que essa ideia é super atual?Essa ideia de que só o casamento legitima a mulher?
ResponderExcluirEssa parte também é genial. Esse livro é mesmo único! Hoje em dia, acho que a mulher tem outras formas de se legitimar, como por meio do trabalho, por exemplo. O casamento não tem mais o mesmo significado de antes, embora algumas pessoas ainda guardem aquela concepção antiga. De fato, hoje, ainda tem aquela história de que se a mulher não casar vai "ficar pra titia" ou de que se o homem não propor casamento é porque não ama a mulher de verdade. Acho muito ultrapassada essa visão; as coisas são bem diferentes hoje.
ResponderExcluir