sexta-feira, 20 de maio de 2011

Solo de clarineta



A falta de Érico Veríssimo

Falta alguma coisa no Brasil
depois da noite de sexta-feira.
Falta aquele homem no escritório
a tirar da máquina elétrica
o destino dos seres,
a explicação antiga da terra.

Falta uma tristeza de menino bom
caminhando entre adultos
na esperança da justiça
que tarda – como tarda!
a clarear o mundo.

Falta um boné, aquele jeito manso,
aquela ternura contida, óleo
a derramar-se lentamente.
Falta o casal passeando no trigal.

Falta um solo de clarineta.

Carlos Drummond de Andrade

3 comentários:

  1. Depois dessa, gosto ainda mais de Drummond!

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  2. Que coisa linda! Drummond sempre homenageia em poemas outros escritores, como Manuel Bandeira, Clarice Lispector...

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  3. Que delícia esse poema...é bastante triste, mas é muito belo!

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