No livro Sentimento do mundo, a mão, que simboliza a consciência, aparece de início como algo que se completa, se estende para o semelhante e deseja redimi-lo. Como o poeta traz o outro no próprio ser carregado de tradições mortas, a redenção do outro seria como a redenção dele próprio, justificado por essa adesão a algo exterior que ultrapassa a sua humanidade limitada. A poesia consistiria em trazer em si os problemas do mundo, manifestando-os numa espécie de ação pelo testemunho, ou de testemunho como forma de ação através da poesia, que compensa momentaneamente as fixações individualistas do "eu todo retorcido".
[...] O poeta reage a esta série de constatações que alimentam a tomada de consciência de Sentimento do mundo, recusando os temas do lirismo tradicional e dispondo-se a partilhar, pelo espírito, da fabricação prodigiosa de um mundo novo anunciado pelos acontecimentos, que descreve em poemas admiráveis, utilizando símbolos como as mãos dadas, a aurora, a flor urbana, os matizes de vermelho, o sangue redentor, o operário que anda sobre o mar, manifestando uma era de prodígios.
Assim, pode rever a escala da personalidade em relação ao mundo; e desta verificação resulta acréscimo de compreensão do eu e do mundo, inclusive da relação entre ambos, o que dará nova amplitude à sua poesia.
Trecho do ensaio "Inquietudes na poesia de Drummond", de Antonio Candido.
Adoro as análises do Antonio Candido. Tudo fica sempre mais claro! Depois que terminar o livro, quero ler esse ensaio completo!
ResponderExcluirAntonio Candido é o cara! Sempre nos ajudando a ler melhor e mais profundamente!
ResponderExcluirAntonio Candido me faz compreender essas leituras sob um ângulo completamente novo!
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