"Eu próprio não sei se este eu, que vos exponho, por estas coleantes páginas fora, realmente existe ou é apenas um conceito estético e falso que fiz de mim próprio. Sim, é assim. Vivo-me esteticamente em outro. Esculpi a minha vida como a uma estátua de matéria alheia ao meu ser. Às vezes não me reconheço, tão exterior me pus a mim, e tão de modo puramente artístico empreguei a minha consciência de mim próprio. Quem sou por detrás desta irrealidade? Não sei. Devo ser alguém. E se não busco viver, agir, sentir, é – crede-me bem – para não perturbar as linhas feitas da minha personalidade suposta. Quero ser tal qual quis ser e não sou. Se eu cedesse destruir-me-ia. Quero ser uma obra de arte, da alma pelo menos, já que do corpo não posso ser. Por isso me esculpi em calma e alheamento e me pus em estufa, longe dos ares frescos e das luzes francas – onde a minha artificialidade, flor absurda, floresça em afastada beleza”
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
Adoro esses questionamentos do Pessoa! É bom para manetar a mente sempre atenta!
ResponderExcluir"Às vezes não me reconheço, tão exterior me pus a mim"
ResponderExcluirEu me enxergo muito nessa frase do Pessoa!
Pessoa devia viver um conflito muito grande pra ter dado origem aos heterônimos... e esse trecho fala muito bem disso, ele se desmembrou em outros esteticamente!
ResponderExcluirAchei linda essa parte: "Quero ser uma obra de arte, da alma pelo menos, já que do corpo não posso ser. Por isso me esculpi em calma e alheamento e me pus em estufa, longe dos ares frescos e das luzes francas – onde a minha artificialidade, flor absurda, floresça em afastada beleza”
Esculpir-se com alheiamento... como assim? Pessoa é maravilhoso mesmo!
ResponderExcluirLu, achei que vc ia amar essa imagem!!
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