"Agradecimento aos participantes do 1º Elael, por Eduardo Galeano.
Amigas, amigos,
Obrigado pela homenagem. Eu quero enviar um abraço para vocês. Desde aqui, do lugar de onde estou falando, enviando isso, por coincidência, se chama Café Brasileiro, que é o último sobrevivente, o “último dos Moicanos”, dos velhos cafés nos quais eu fui formado. Porque os cafés de Montevidéu foram a minha universidade.
Naquele tempo, a gente ainda tinha tempo para perder o tempo. E aqui nos cafés que eu aprendi o que eu sei da arte de narrar, de contar histórias, escutando. Eu sempre digo que o primeiro conselho que eu daria para aqueles que querem escrever é que, para não ser mudo é preciso, primeiro, não ser surdo. Quer dizer, ser capaz de escutar para ser capaz de falar. Isso eu aprendi aqui nos cafés, escutando histórias.
A arte de contar uma coisa acontecida ou, às vezes, imaginada como se tivesse acontecendo na hora em que é narrada. Essa arte da ressurreição que as palavras têm quando são palavras bem armadas, bem contadas, que nascem de verdade, nascem da necessidade de dizer. Eu não acredito em uma linguagem que não seja assim, que não brote da necessidade de dizer alguma coisa, de contar alguma coisa que me deixe ser contagiado.
A partir da certeza de que meu mestre, Juan Carlos Onetti, o grande escritor uruguaio, tinha razão quando ele mentia dizendo que um provérbio chinês dizia que as únicas palavras que merecem existir são as palavras melhores que o silêncio. Ele mentia porque esse provérbio não era chinês p... nenhuma. Era uma invenção dele. Mas muito boa. Eu acredito que sim. Escrever consiste em trabalhar para encontrar aquelas palavras melhores que o silêncio, porque é um desafio considerável. O silêncio é uma linguagem quase perfeita.
E escrever é pra mim isso: uma tentativa de recuperação das cores, das flores, do arco-íris. Eu parto da certeza de que o arco-íris terrestre é muito mais belo do que o arco-íris celeste. Mas nós estamos presos e ainda não somos capazes de vê-lo com todo o seu esplendor, toda a sua grandeza. Pode ser que as palavras ajudem um pouco, ou pelo menos um pouquinho, nessa tarefa da recuperação da nossa plenitude humana.
Estamos cegos pelo racismo, pelo elitismo, pelo militarismo e por outros “ismos” que por aí vão. Mas vale a pena. Até porque acho que é um ato de uma parte importante da luta contra o medo. Contra o medo de ser, contra o medo de se encontrar, contra o medo de dizer. E o medo é um cárcere"
Amigas, amigos,
Obrigado pela homenagem. Eu quero enviar um abraço para vocês. Desde aqui, do lugar de onde estou falando, enviando isso, por coincidência, se chama Café Brasileiro, que é o último sobrevivente, o “último dos Moicanos”, dos velhos cafés nos quais eu fui formado. Porque os cafés de Montevidéu foram a minha universidade.
Naquele tempo, a gente ainda tinha tempo para perder o tempo. E aqui nos cafés que eu aprendi o que eu sei da arte de narrar, de contar histórias, escutando. Eu sempre digo que o primeiro conselho que eu daria para aqueles que querem escrever é que, para não ser mudo é preciso, primeiro, não ser surdo. Quer dizer, ser capaz de escutar para ser capaz de falar. Isso eu aprendi aqui nos cafés, escutando histórias.
A arte de contar uma coisa acontecida ou, às vezes, imaginada como se tivesse acontecendo na hora em que é narrada. Essa arte da ressurreição que as palavras têm quando são palavras bem armadas, bem contadas, que nascem de verdade, nascem da necessidade de dizer. Eu não acredito em uma linguagem que não seja assim, que não brote da necessidade de dizer alguma coisa, de contar alguma coisa que me deixe ser contagiado.
A partir da certeza de que meu mestre, Juan Carlos Onetti, o grande escritor uruguaio, tinha razão quando ele mentia dizendo que um provérbio chinês dizia que as únicas palavras que merecem existir são as palavras melhores que o silêncio. Ele mentia porque esse provérbio não era chinês p... nenhuma. Era uma invenção dele. Mas muito boa. Eu acredito que sim. Escrever consiste em trabalhar para encontrar aquelas palavras melhores que o silêncio, porque é um desafio considerável. O silêncio é uma linguagem quase perfeita.
E escrever é pra mim isso: uma tentativa de recuperação das cores, das flores, do arco-íris. Eu parto da certeza de que o arco-íris terrestre é muito mais belo do que o arco-íris celeste. Mas nós estamos presos e ainda não somos capazes de vê-lo com todo o seu esplendor, toda a sua grandeza. Pode ser que as palavras ajudem um pouco, ou pelo menos um pouquinho, nessa tarefa da recuperação da nossa plenitude humana.
Estamos cegos pelo racismo, pelo elitismo, pelo militarismo e por outros “ismos” que por aí vão. Mas vale a pena. Até porque acho que é um ato de uma parte importante da luta contra o medo. Contra o medo de ser, contra o medo de se encontrar, contra o medo de dizer. E o medo é um cárcere"
Li isso no site da UnB e achei bonito!!Pra 2011 quero muita coragem!!
ResponderExcluirMaravilhoso!!
ResponderExcluirLindo discurso! Escrever assim, com vontade, com paixão, deve mesmo ser libertador! Feliz é quem tem esse dom!
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