sábado, 12 de fevereiro de 2011

Todas as cartas de amor são ridículas



Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)


Álvaro de Campos



3 comentários:

  1. Tem coisa mais maravilhosa do que falar de amor e viver o amor sem medo de parecer ridiculo??

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  2. Eu acho que esse poema fala de umas das verdades mais profundas do ser humano! É impossível estar apaixonado e não ter uma pontinha de ridículo.

    Álvaro de Campos, meu preferido! Amo demais.

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