"Sem me ater a pormenores, permito-me acentuar que ambos, economista e poeta, se confundem no mesmo anseio de conhecer, são sacerdotes da mesma religião e daquela “alegria de compreender” de que o gênio de Leonardo da Vinci dizia ser “o mais nobre dos prazeres”. Um, para a sublime exaltação do espírito, se desvelará com as chamas que ardem na seara poética. O outro se empolgará com as frias abstrações dos números e das estatísticas, emprestando-lhes, com a mesma inquietação, o calor de sua paixão de cientista.
O poeta não tem, como o homem de ciência, o oficio de pensar o mundo, mas o de repensá-lo, em moldes de um lirismo ideal e sonhador. O cientista é mais humilde e objetivo. Aceita a estrutura das coisas e procura conhecê-las para torná-las mais accessíveis ao pragmatismo das formas de convivência social. A missão de um é repensar criticamente uma realidade, cujo sentido derradeiro a linguagem e a sintaxe comuns são incapazes de traduzir. O outro, o cientista, habituado às flutuações de todas as relatividades, contenta-se com isolar determinados fragmentos dessa realidade cambiante e esquiva, para que possa o homem, compreendendo-os, extrair deles elementos que lhe tornem menos áspera a vida e menos opressivo o seu sentimento de desamparo no mundo.
Um e outro, porém, prisioneiros da vida, aspiram ao conhecimento puro. Um e outro indagarão dos seus mistérios e do sentido da história. As respostas que oferecem diferem qualitativamente, mas não em sua substância. O poeta dirá de seu universo povoado de criações metafísicas, onde o homem se pode perder, porque a luz de sua razão lógica é pequena demais para devassar as sombras absorventes do cosmos. O cientista aludirá também à fragilidade do destino humano, às suas perplexidades diante de tantos problemas que lhe excitam a inteligência. Mas a sua mensagem será tocada daquela ânsia de conhecer, que não abandona o homem. O Homem, que, no conceito do filósofo, sabe ser a vida uma litania de memento mori, mas sente também, para que haja vida, a necessidade de enfrentar os impassíveis desafios do destino”
Roberto Simonsen
Lu, muitíssimo interessante esse texto. Confesso que é uma comparação que não tinha cogitado ainda! =*
ResponderExcluirMuito bom! "O poeta não tem, como o homem de ciência, o oficio de pensar o mundo, mas o de repensá-lo, em moldes de um lirismo ideal e sonhador."
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