"A verdade é que ninguém - nem o próprio Gabriel García Márquez - parece capaz de lembrar o dia, a semana ou o mês em que foi escrita a primeira frase de Cem anos de solidão. Tudo que se sabe é que foi numa terça-feira de 1965. E que o mais provável é que tenha acontecido entre o final de junho e o começo de agosto.
É certo, porém, que aconteceu na Cidade do México, na rua Loma, número 19, em San Angel Inn, um bairro de classe média que na época era relativamente novo. A casa de tijolos aparentes tinha janelões que se abriam para terrenos descampados e mostravam, muito ao longe, o perfil da serra. Havia um jardim gramado na frente e um pequeno quintal com dois freixos - árvores frondosas e de madeira resistente, como resistentes seriam o autor e principalmente sua mulher, Mercedes, ao longo dos intensos e alucinados meses consumidos até que o livro ficasse pronto.
Quando escreveu a primeira frase de Cem anos de solidão Gabriel García Márquez tinha 37 anos de idade. Havia chegado na Cidade do México quatro anos antes- no entardecer do domingo, dois de julho de 1961. Saía, com Mercedes e o filho Rodrigo, de uma agitada temporada em Nova York, onde tinha sido correspondente da agência cubana de notícias Prensa Latina. Viajou de ônibus, atravessando os Estados Unidos e prestando especial atenção às paisagens do sul, o mundo misterioso e dramático de um de seus mestres, William Faulkner.
Levava pouco mais de duzentos dólares no bolso, nenhum vislumbre de emprego ou trabalho, a determinação de se transformar em roteirista de cinema e a vontade de se estabelecer de vez como escritor.
No dia seguinte ficou sabendo que, no amanhecer da véspera e enquanto percorriam o último trecho da viagem exaustiva, Ernest Hemingway, outro de seus mestres, havia se matado. E foi sobre Hemingway que ele escreveu seu primeiro texto em terras mexicanas, Um homem morreu de morte natural, que Fernando Benítez, 0 mítico diretor do suplemento cultural "México en la Cultura", do jornal Novedades, publicou em destaque.
Entre o dia da chegada e o amanhecer da terça-feira incerta em que se sentou diante da pequena Olivetti portátil e começou a primeira frase do livro que mudaria sua vida, mexeria com as vidas de milhões de leitores em todo o mundo e daria novos rumos à literatura latino-americana, a existência de Gabriel García Márquez no México navegou ao sabor de ventos variados."
O autor que não conheci, Eric Nepomuceno.
Tem essa parte no meu livro também, mas nem li tudo ainda! Vale muito a pena essa edição do Nepomuceno...
ResponderExcluirGente, o GG Márquez é simplesmente INCRÍVEL
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